quinta-feira, 28 de maio de 2009

ATILIO GARRET E O ULTIMO VÔO PARA A ETERNIDADE! (REQUIEM PARA UM MESTRE AMIGO)


O Homem morre. Sua obra, jamais!
Logo: a morte é o caminho para a eternidade!

1992. Conheci o mestre Atílio Garret numa oficina de teatro de rua. Era março, eu tinha lá meus dezesseis anos, cabelos grandes e toda a rebeldia juvenil que a idade dá o direito. Atílio me olhou e sorriu ironicamente – uma ironia que, de certa forma, influenciaria parte da minha personalidade para sempre. Perguntou das minhas experiências artísticas: relatei os cursos freqüentados desde 1990, a peça no teatro Itália e o violão que eu tocava. Fez cara de surpreso, o canalha. Era muita banca pra pouca idade, e ele sabia. Me aceitou no grupo. Oficina de Teatro de Rua, na Oficina Cultural Luiz Gonzaga, ainda na rua Parioto, 402 – Jacuí: São Miguel ainda Paulista. Foi ali que o rebelde adolescente Dark’Ney deu espaço para o estudante e pesquisador de Artes Cênicas Claudemir Santos. Ali nascia o diretor.

2009. Dezessete anos depois, meu telefone toca às 23:13h. A voz de Gisélia Lima invade meus sentidos em um tom diferente, como quem tem algo a dizer a uma criança e, da maneira mais branda possível, ela me informa que Atílio Garret morreu ontem, 24 de Maio, e foi enterrado hoje, 25, em Guarulhos. O mundo pára por um instante. As preocupações somem. A vida perde o sentido. De imediato, tenho aquela sensação de vazio eterno invadindo meu peito e a recordação da última vez que o vi. Quer dizer que não iremos mais nos ver? Nunca mais? Surge ele me perguntando se já li Edgar Allan Poe, nos meses finais de 1992.

Gisélia tenta gentilmente puxar outro assunto, mas eu não tenho mais nada a dizer ou conversar. A mente é um turbilhão de ensinamentos ministrados pelo meu diretor mestre; o homem que me ensinou a aprender.

Certa vez, em 1993, no grupo Pandora: Atílio dirigia uma montagem com fragmentos de Martins Penna numa versão non sense (“Gente, sem senso não quer dizer sem sentido!”). Tinha algo a pesquisar e eu fui lá e pesquisei, levando para o grupo: o endereço da SBAT e a relação de textos em domínio público, coisas assim. Fui à Avenida São João, conheci o local, tomei notas, etc. Na reunião, mostrei ao grupo. Atílio pegou minhas anotações, abriu um caderno pessoal e conferiu com as suas.
“É isto mesmo, Gezoná.” – Várias vezes ele se referia a mim pelo nome do personagem de “O Grande Circo Padú”, o espetáculo resultado da oficina de teatro de rua, meu primeiro personagem sob sua direção. Ao ver que ele tinhas todas as informações que fui buscar, me revoltei. Por que ele dificultara o que era tão fácil?
“Mas você tinha tudo aí? Por que não passou pra gente?”
“Porque vocês precisam ir atrás do que vocês querem, não eu.”
Silêncio. Ele continua a reunião, definindo texto e personagens. Surge na mente Fabiana Guimarães (grupo Pandora) um ano depois, dizendo que precisava agradecer Atílio pro proporcionar seu crescimento artístico e entendimento da arte. Dou o recado e ele diz algo positivo sobre ela, desejando boa sorte a moça que jamais pisaria no palco outra vez, mas conseguia enxergar o mundo por outras perspectivas. No final de 93, eu sairia do Pandora e criaria o Alucinógeno Dramático em 94. Envei uma carta a Atílio, e ele me respondeu, dando aquela força. Eu precisava mesmo escolher meu caminho e praticar minha visão artística. Meses depois, Atílio foi assistir nosso primeiro espetáculo (A valsa dos mortos) e gostou bastante, apontando os pontos onde as coisas podiam ser melhores e elogiando o espetáculo para terceiros em encontros eventuais.
“Agora você é diretor, também! É isto aí, rapaz: mete as caras!”
Eu segui o conselho e, de repente, havia uma personalidade artística amadurecendo.

Entre erros e acertos, na estrada da arte encontrei o Atílio várias vezes. Sempre conversamos. Sempre pediu para que eu assistisse suas aulas e participasse das discussões; sempre me respeitou como pessoa e artista – e, é claro, sempre tirou onda da minha cara em todas as ocasiões possíveis –seu senso de humor era fantástico! E, em conseqüência...

Havia quem não gostasse do Atílio. Falavam de uma certa arrogância, de um humor ofensivo e uma certa desmistificação da coisa sagrada que era o teatro. Eu ria dos detratores e concordava com eles: “É por isto que eu gosto do Atílio; ele não tem viadagem, né?” – costumava dizer. Muita gente deixou de “gostar” de mim por eu gostar do Atílio que “destruía trabalhos”. A verdade é que Garret tinha um senso crítico e criativo muito apurado para os amadores que possuem DRT e se sentem profissionais por causa de um carimbo na carteira e iniciantes que desejavam elogios e aplausos para qualquer macacada que fizessem. Atílio pesquisava e incentivava a pesquisa. Estava sempre atrás de descobertas e transmissão de descobertas para proporcionar novas descobertas. Não era um artista acomodado, como a maioria é; estagnada no tempo e perdida no espaço da criatividade.
“Conhece tal coisa?” – pergunta ele.
“Não.” – responde o aluno.
“Então vai pesquisar. E não vai por mim, não, que eu posso estar errado ou querendo enganar você!”

Eu também não escapei desta rusga atiliana. Certa vez, num curso, no meio de um exercício, ele me interrompeu e disse:
“Pode parar! Seu corpo não tem cultura pra fazer este exercício!Vá praticar até estar preparado!”.
Poucas vezes me senti tão envergonhado. Outra vez, chamou minha atenção por causa da mania de endeusá-lo: “Você aprendeu porque quis, eu não te ensinei porra nenhuma! Você, você conquistou seu conhecimento!”
Não precisava de bajuladores, misticismos e coisas assim.

Gisélia desliga o telefone. É tarde, precisa dormir, talvez a gente se veja no dia seguinte. Desligamos. Mal dormi. Luz acesa: eu ainda não acreditava no fato. Na noite seguinte, Sacha Arcanjo diria “Pode acreditar porque é verdade. Precisamos mandar um e mail pra Elizete.” Enviamos. Eu tinha o telefone, mas ligar pra dizer o quê? O que se diz mesmo nestas horas? Quisera pudesse apenas exibir o coração e fazer surgir todo o sentido dos sentimentos.

Nos últimos anos nos vimos raramente, todas na Luiz Gonzaga. Anos atrás, nós seguíamos o Matéria Vertente para ver “Canudos”, “Os sertões” e “Sermões” em vários lugares de São Paulo e numa universidade de Guarulhos. Eu, Ivan Neris e Marcelo San, na Belina Ensemble, prestigiando, conversando e aprendendo com Garret, Elizete Gomes e Silvionê Chaves – estávamos correndo São Paulo também, com “Tempestade & Ímpeto” e “Uma Noite Lírica”: éramos colegas de trabalho conversando sobre nossa rotina artística. Aliás, a peça sobre Canudos virou o livro “Canudos, terra em chamas – história e teatro” pela FTD, em 1997. Este livro chegou na minha mão anos depois, autografado por Atílio e Elizete. Na dedicatória, ele escreveu: “que este livro ilumine seus conhecimentos e te instigue para novas pesquisas”. Não há data, mas lembro que estávamos montando “Maquiavel, Da Vinci e o Príncipe”. Era 2008.
“Você gosta destas coisas, né? Kafka, Poe, Maquiavel...”
Outra vez, nos encontramos de passagem na Oficina. Ele disse que eu estava careca, eu disse que ele estava gordo. Lembrou-lhe um conto de Luiz Fernando Veríssimo. Rimos. Piadas. Coisas assim. Amigos, sempre.
“Você velho, está mais bonito do que quando era novo!” – ele e o Sacha tirando sarro da minha adolescência do jeito que apenas velhos amigos que nos viram crescer podem fazer.
“Vou fazer um trabalho aqui amanhã. Vem assistir, mas não vai copiar depois, pô! O cara copia tudo que eu faço, Sacha! Assiste minha aula pra dar as dele!”
“O que eu posso fazer? Preciso seguir os passos do mestre!”
“Aparece aí amanhã, pra gente conversar um pouco.”
Não apareci. Não lembro o motivo. Mas não fui.

“Não acredito que ele morreu!”
“Pois acredite, Claudemir” – diz Sacha – “Infelizmente, é verdade.”

Verdade. Atílio sempre buscou a verdade em sua arte, e influenciou vários artistas que estão por aí, partindo de sua vertente para um novo rumo, tal qual ele gostava. No Pandora, depois de uma comida de rabo em todo o grupo, ele saiu da sala. As pessoas iam começar a cometer os mesmos erros. Eu os cortei e disse que devíamos conversar seriamente e a pensar arte com responsabilidade. O percebi na janela coçando o cavanhaque. Não esboçou nenhum gesto facial, apenas balançou a cabeça em sinal de aprovação, ajeitou os óculos e partiu. Pandora se foi. O Alucinógeno Dramático está aí até hoje e, da geração Atílio, ainda temos Isa Diaz e Marcos Antonyo. Já tivemos mais atilianos. Só assim o grupo funciona; com uma visão artística em comum. Em todos os momentos decisivos do grupo, eu recordo aquele movimento de aprovação do bom e velho Garret.

Hoje, descobrindo-me órfão de mestre, percebo que cresci e amadureci longe de suas asas, o que sempre era o desejo dele para com seus alunos: Atílio nos mostrava o céu e ensinava a usar as asas. Conquistar o céu dependia do desejo e esforço de cada alma, corpo e mente. Ele não era uma muleta! E devo confessar que ainda não sei voar direito – apesar de ter alunos e amigos que tem certa admiração por meu trabalho – e que ainda falta muito para realizar um vôo perfeito.

“Claudemir, você sabe quem faleceu?” – perguntou Gisélia, com a voz extremamente doce e cuidadosa.
“Não.”
“O Atílio.”
“...”

Eu, pássaro, sou lançado no céu por suas mãos. Quase caindo, mantenho o equilíbrio e me sinto feliz por ao menos conseguir manter meu vôo torto num céu nem tão azul assim. Olho para trás, querendo vê-lo admirar meu vôo desajeitado, mas ele está bem mais alto do que minha visão pode alcançar. Enquanto eu aprendia a voar, ele conquistava o Céu máximo. Há um sorriso em seu rosto, e um aceno de aprovação enquanto ruma em direção ao Sol. Tento fixar o olhar, mas minhas lágrimas impedem uma visão perfeita. Aceno adeus com o coração partido, mas feliz por saber que sempre estivemos no rumo certo de nossa existência. Viro o rosto para o futuro e sigo, tendo em minha alma a certeza de que, no passado, eu estive ao lado de um grande homem, que foi meu mestre e amigo.


(Atilio Garret faleceu em 26 de Maio de 2009 devido a problemas envolvendo rins e pulmões.)

John Zorn - Entrevista traduzida por Skylab

Rogerio Skylab traduziu uma entrevista de John Zorn, músico de Jazz bastante experimental, que escreve algumas coisas camerísitcas também. A entrevista é muito legal, com uma visão bacana do mercado fonográfico e do mundo. Interessante ver que ele enxerga de fato o problema do mercado, vendo que o gargalo não está na distribuição e sim no consumo.
Como diria o Pernalonga, That's all folks!

terça-feira, 26 de maio de 2009

coisa que valem à pena ler....

Caros correlegionários,

fugindo um pouco das vicissitudes causadas pelo uso do diclofenaco e das manchas rosa ocasionadas pelo uso do papel primavera... apresento-lhes um link de um blog literário muito bacana - a toca do brontops - por conta de um texto, escrito por um amigo meu, o roger frugoli, mais conhceido como brontops. o texto é muito bom e ora beira o fantástico dos contos de fada ocidentais, ora beira os contos populares da filosofia oriental. leiam e vcs saberão do que estou falando. é bom!

http://brontops.blogspot.com/2009/05/fabula.html

comentem na própria página do autor.

abraços,

Tiago Araújo.

P.S. logo mais: oficina de criação literária em são miguel, na oficina cultural luiz gonzaga, inicio em 12 agosto, término em 30 de setembro, às quartas-feiras, das 18:45 às 21:45, 30 vagas. logo mais maiores detalhes serão divulgados!!!! por ora, peço, gentilmente que ajudem a divulgar!!!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

PS FALHA NOSSA!! LETRADO IMPORTUGUAVEL

EU SEM QUERER POSTEI O TEXTO ANTES DA HORA ESTE QUE ESTA AQUI LOGO EM BAIXO, ENTÃO VAI LÁ SEGUE O LINK DE UM DEPOIMENTO DE INFANCIA MEU MUITO TRISTE, E VAI PRA NOSSA SESSÃO IRONIAS A PARTE VALEU




POR LETRADO IMPORTUGUAVEL!!

VAI PASSANDO NANDO Z, DEPOIMENTO DE INFANCIA, ENCONTRO NO CDC E INDAGAS

Senhores e quem sabe senhoras, venho como quase sempre devaniar um pouco, e atender ao pedido do meu compatriota "Claudema de Los Santos" descrevendo mais algum detalhe sobre o ultimo encontro da nata "Sumiguelhense" , E bem assim foi bacana mermo eu gostei do dignissimo Alfredo e de suas meias cinzas(realmente o terno não era dele), e um detalhe apos o termino suas falas o mesmo foi alvejado por alguns "formadores" da região revindicando O nosso Centro cultural, que parece que esta a caminho, o detalhe é que os nossos queridos dinossauros do MPA, já tinham inserido o assunto discretamente como qdo querem sabem faze-lo, mais naquele momento,só se via a baba cair de alguns colaboradores, ate que se querer eu ouvi uma das dizer ao sr Alfredo: 'vc já teria alguém em vista pra indicar?'.Isso o cara mal tava sabendo do projeto vai vendo,
NANDO Z DENUNCIA: Apesar de muito do recursos federais serem desviados da cultura, realmente ñ esta fazendo diferença pelo menos pra saude, passei em 4 hospitais no ultimo domingo com meu candidato a pai virando os zoios e ñ consegui ser atendido, o mesmo estava tendo um hemorragia interna, com uma fisura no estomago, porém agora o mais grave o diagnostico, o medico disse: "VC já bebeu bastante, fumou, comeu excessivamente, e tomou diclofenaco? "-Ele disse sim, e o medico o alertou esta fisura era um efeito disso então gente pelo amor de deus!!!! PAREM DE TOMAR DICLOFENACO!!!

terça-feira, 19 de maio de 2009

II Encontro Cultura e Sustentabilidade do CDC Tide Setubal São Miguel. Lá nós!

Acordei. Tomei banho. Vesti as roupas de sempre. O indispensável: óculos escuros, luvas velhas de couro sintético. Bicicleta. “Não vai tomá café, Nê?”. “Vô não, mãe.” Desci em direção ao CDC Tide Setúbal para o II Encontro Cultura e Sustentabilidade. Já na entrada, Ceciro Cordeiro, Raberuan e Gilberto Travesso cumprimentando alguns que chegavam naquele instante, entre eles, eu. Minha primeira questão sobre o evento tem a resposta positiva: o café da manhã ainda não tinha terminado.
Credenciamento, café burguês e as personalidades locais chegando: Zulu de Arrebatá, Júlio Cezar, Walter Passarinho, Valdir Aguiar, Wagner Tadeu, Francisco Makumba, Sacha II Gabriel, Sacha, o Arcanjo, Akira & Sueli Kimura, arquiteto Ruy Barbosa, Josafá Pereira, seu Eurico (o coordenador oficial da Casa de Cultura de São Miguel, vestido a rigor, tal qual um agente funerário, segundo Nando Z), alguns politiqueiros, a imprensa local e, por fim, o não menos importante, Nando Z, de bermuda, tênis, camisa social manga curta azul marinho e uma fome dos diabos. À mesa, enquanto comíamos, encontramos o ator e produtor Cláudio Gomes – o único que, mais adiante, teria a atitude decente de fazer uma observação crítica ao figurão do dia.
Ao longe, eu observava Maria Alice Setúbal fazendo sala para Alfredo Manevy, secretário executivo do Ministério da Cultura – um cara alto de barba escrota, rabo de cavalo e terno com jeito de emprestado, ou seja: parecia ser artista. Na sala, com ela, Sacha Arcanjo, o embaixador da cultura de São Miguel. Neste momento, eu e Sacha II, observávamos um belo casal emo de lésbicas e comentávamos, enquanto Nando Z olhava duas respeitáveis senhoras bem vestidas e dizia: “Lésbicas, é? Que delícia!”, pensando que as lésbicas eram elas. Vimos que o seminário teria lá seus equívocos logo neste momento.
Após o café (quinze lanchinhos e dois litros de suco), fui à Biblioteca Raimundo de Menezes, emprestei livros sobre utopia, alienação, estética visual e voltei para o CDC. O local estava lotado. Lotado, digo, umas possíveis 50, 60 pessoas. Perdi o começo, mas até imagino: Tião Soares deve ter tirado – como sempre – um teórico de sua preferência da manga – ele adora citar estes tipos – e passou o microfone para Maria Alice Setúbal que, após breve discurso, passou o microfone para Manevy – que foi quando eu cheguei. A autoridade pediu licença, ficou em pé e começou um simpático discurso relatando o quanto a cultura estava abandonada no país e como foi bom para o país que a esquerda petista (evidentemente não com estas palavras, mas eu não sou bobo) colocasse-a nos eixos pois, segundo ele, o PT “colocou a cultura na agenda política no Brasil” e que “historicamente, a cultura não foi tratada como política no Brasil, achamos (a pasta) em estado precário”. O discurso é belo e está recheado de meias verdades ou de meias mentiras, dependendo do ângulo. Nada demais: não esperem outra postura de qualquer autoridade. A pena é que Manevy não sabia segurar o microfone, tendo que ser interrompido várias vezes por Tião Soares para que enfiasse o microfone na boca direito – lá, ele! Manevy é carismático e tem um senso de humor suave e contagiante. Risos simpáticos do público. Microfone devidamente colocado de frente à boca. Volta o discurso. Mais umas duas ou três vezes foi pedido que segurasse o microfone corretamente. Depois, desistiram.
De cabeça, Manery apresentou dados pesquisados por órgãos como o IBGE sobre a situação cultural de nosso país. Um desses dados, por exemplo, foi pesquisado no segundo ano do mandato de Gilberto Gil, que aponta que 90% da população do Brasil não tem acesso aos equipamentos culturais. Outro, revela que 5% do trabalho formal encontra-se na área cultural e que, se juntarmos os trabalhadores informais da área cultural, este número vai a 10%. Falou sobre a visão dos outros ministérios que, quando querem realizar cortes no orçamento, olham logo para a pasta da cultura, por parecer para eles algo supérfluo. Acredito que foi a fala mais coerente de Alfredo Manevy, num jogo aberto sobre os bastidores do congresso onde Gil ia pedir verba para Lula e seguia-se, mais ou menos, o seguinte diálogo:
“Gil, não me peça mais estas coisas!”
“Presidente, mas eu tô aqui para isto! Reivindicar para a cultura!”
Ou mesmo – e mais chocante ainda – quando uma ou outra figura (não foi citado nomes) do Governo dizia:
“Gil, você não pode resolver tudo. Concentre-se em algo que dê visibilidade!”
“Não posso ver a cultura como uma parte.” – dizia Gil – “Como posso olhar parte de algo que é um todo? Como posso olhar o cinema e esquecer o teatro, a música, as artes visuais?”
Estas, sim, são posturas críveis dos governantes deste país que, quando querem cortar verbas publicas apontam a tesoura para a Cultura. “Eles não tem compreensão do papel da cultura”, disse o palestrante.
No mais, Manevy levantou três dimensões importantes da cultura para o Brasil: a dimensão simbólica, que “ultrapassa o limite funcional”. Foi o que ele disse, juro! A segunda dimensão: direito e cidadania no que diz respeito a acessibilidade à cultura e seus equipamentos. Algo do tipo: a cultura como prioridade básica dentro de todo e qualquer governo. Lindo, eu sei, o que não vai adiantar muito se a mídia continuar socando boca adentro estas porcarias televisivas e descartáveis que alguns uns e outros tão chamando de cultura – o que abrirá uma ampla discussão sobre a qualidade do produto cultural artístico na mídia.

(Lembra quando você pensou que seria o cúmulo sua filha querer ser a Carla Perez? Não fizeram nada, e agora sua neta quer ser uma mulher fruta e o filho do vizinho é uma lacraia há algum tempo. Imagina o que vem depois disto...)

O terceiro tópico eu perdi porque alguém me chamou pra comer alguma coisa e eu fui. Espero que Nando Z não tenha cochilado e poste aqui a idéia de Manevy que, na maior parte do tempo, teve um discurso coerente dentro do tema, muito bonito até pro meu gosto.

O debate eu nem ouvi. E nem perguntei nada, também. Fiquei ali conversando sobre a cena artística da praça Roosevelt e Mario Bortolloto (é assim que se escreve?). Outras, ouvindo o papo furado dos que perguntavam isto ou aquilo sem nenhuma novidade. O único que teve uma pergunta que me chamou a atenção foi Cláudio Gomes que deixou claro que não adianta a verba na mão dos grandes já que elas não chegam aos pequenos: já que é pra fazer um política cultural publica para todos, que todos sejam incluídos. Como fazer isto? Manevy e sua equipe que se vire. Eu to de olho mesmo é naquela magrela ali! Ou, ainda mais: “amigo meu até a página três”, como disse um certo amigo sobre as personalidades presentes, doidas para morder algo que não fosse um lanchinho burguês.

Final do evento. Lançamento do livro “Cultura: diálogos para o desenvolvimento humano”, que diz respeito à primeira reunião, realizada no dia 13 de setembro de 2008. Folheamos o livro eu, Nando Z e Sacha II, atrás das nossas fotos. Todos os bonitinhos estão representados nas fotos de Verônica Manevy (será ela parente do homem?), que tem uma objetiva fenomenal para capturar pessoas em movimentos e articulações – observem: ninguém estático! Mas acredito que as fotos poderiam não ter sido tão semelhantes uma da outra, e que o trabalho da fotógrafa fosse mais bem aproveitado. Fora isto, o cidadão que transcreveu o áudio colocou-me dizendo: “Eu sou diretor do Pólo Cultural”. Como o cara tirou “pólo” de Alucinógeno, eu não sei. Nando Z riu que quase se mijou, e alguém ainda disse que “Pólo” é melhor que
”Alucinógeno”. Como nunca experimentei “pólo”, a não ser camisa – que eu nem gosto – não vou contestar. Espero que Tarcisio Hayashi possa me tirar esta dúvida. Além de comer esta bola logo comigo, o livro também tem vírgulas e pontos desnecessários aqui e ali, mas o restante é muito bom: encadernação invejável, fotos fantásticas, frases de efeitos ideais para reflexões e letras de bom grado para leituras. É bom ter dinheiro, hein!?

O melhor mesmo foi no final dos finais, quando a Folia de Reis de São Miguel, um grupo de senhoras e senhores respeitáveis, tocavam suas canções emocionadamente, enquanto as autoridades principais presentes estavam do outro lado da mesa de comida burguesa fazendo politicagem antes de voltarem para trás de suas mesas e bolarem os próximos assuntos que tratariam em algum seminário que gere renda para uns e outros, com assuntos que, aparentemente, não precisam ser resolvidos, apenas eternamente discutidos! Foi lindo!

Peguei pesado no texto acima? Bem sei. So sorry, como diria Morrissey. O que eu gostaria mesmo é que estas conversas fossem transformadas em ação o mais rápido possível, e não pelas autoridades, mas sim por nós cidadãos, artistas e produtores artísticos. Ao invés de esperar pelas tetas do governo, é melhor crescermos e sermos fortes. Pois todos nós sabemos eu esta ama tem seus beiços preferidos, e que isto muito pouco tem a ver com aquela chacota direito do cidadão, dever do Estado. Lá, ele! Por isso, lutem pelos Direitos que todos nós temos até consegui-los, mas assim mesmo não se iludam: realizem sua Arte o mais rápido possível! Se liga que tu não é gestante pra ficar “esperando nascer”.

(O engraçado é que Tiago Araujo havia criado um blog para que os participantes colocassem as idéias discutidas em prática o mais rápido possível. Este Blog fechou porque ninguém deu atenção e ou se interessou. É claro que não: Tiago Araujo é apenas um artista sem fins politicos para justificar seus meios).


EPILOGO:
Nando Z chega e me diz:
“Odete Roitmann ressuscitou.”
“Quem?”
“Odete Roitmann. Ó a Beatriz Segal ali.”
“Aonde, Nando?”
“Ali, Claudemir, caralho!”
Olho a senhora de baixa estatura entre os figurões. Deu vontade de ir lá e dizer “Beatriz Segal? O que você faz aqui?”. Mas nem mesmo eu seria tão indelicado. Puta que pariu: vinte anos de teatro nas costas e nem reconheço uma atriz! Isto é o que dá não assistir televisão!

A ARTE MODERNA SEGUNDO BAUDELAIRE por CLAUDEMIR SANTOS

(Este texto foi uma resenha que fiz para a universidade. Como achei bem interessante e a professora Andrea Tavares gostou do resultado, resolvi repartir com todos aqui no nosso blog. Divirtam-se e, depois, leiam o livro!


AS CARACTERÍSTICAS DA ARTE MODERNA, AS ATITUDES DO ARTISTA MODERNO E OS ARTISTAS MODERNOS SEGUNDO O ENSAIO “SOBRE A MODERNIDADE: O PINTOR DA VIDA MODERNA” DE CHARLES BAUDELAIRE



Publicado postumamente em 1869, o texto “Sobre a modernidade: o pintor da vida moderna” de Charles Baudelaire (1821-1867) nos fala sobre o artista moderno em sua época. Um escrito cheio de imagens poéticas que descrevem bem as atitudes do artista diante da vida, da sociedade e da Arte. Usando como Artista Modelo o desenhista, aquarelista e gravador Constantin Guys (1805-1892), Baudelaire vai e vem pela arte e comportamento da época, exaltando e rebaixando ao seu bel prazer os que seguem ou não os conceitos por ele apresentado. Já no inicio de seu ensaio crítico, ele critica os “conhecedores de museu” que param sonhadores diante de Ticiano ou Rafael e ignoram novos “artistas menores” e atuais, achando que entendem de arte. Suas frases descrevem bem seus pensamentos: “Há também pessoas que, por terem outrora lido Bossuet e Racine, acreditam dominar a história da literatura” (7). Baudelaire é seco, sarcástico, inteligente, irônico e dono de uma escrita excepcional.


Baudelaire, ao exaltar Guys, modela o artista ideal em sua época, não é à toa que, em sua conclusão, ao final do ensaio, o autor conclui que Guys “buscou por toda a parte a beleza passageira e fugaz da vida presente” (70) do que se chama (ou chamou) Modernidade. Durante todo o ensaio, Baudelaire exemplificará, através de descrições de obras de artes e atitudes sociais o comportamento, a arte e o pensamento deste marco na história da arte – uma leitura fascinante e indispensável para quem deseja entender de arte sem pender à mediocridade – acreditem; Baudelaire diria isto, se pudesse!

Para nosso crítico, o artista moderno é um “homem do mundo (...) que compreende o mundo e as razões misteriosas e legítimas de todos os seus costumes”(16). Citando Guys, o qual menciona como C G durante o texto, nos revela que o mesmo não gostava de ser chamado de “artista”. Ainda dentro das atitudes do artista moderno, ele cita a curiosidade infantil como fator fundamental, “um gênio para o qual nenhum aspecto da vida é indiferente”.


Um fator característico – e principal – deste artista moderno seria o dandismo. A palavra dândi, segundo Baudelaire “implica na quintessência de caráter e uma compreensão sutil de todo mecanismo moral deste mundo; mas, por outro lado, o dândi aspira à insensibilidade”(19-20).


Descreve o dândi como um ser abastado, luxuoso, um observador nato à procura de algo novo no universo artístico e na sociedade – e por isto, um ocioso entediado. Bem vestido, tendo a multidão como seu universo, senhor de certa renda que permite seu trânsito livre pela vida sem se preocupar com o dinheiro, uma vez que esta preocupação financeira seria uma busca para homens inferiores: o dândi vive do dinheiro e não para o dinheiro. Um vestir diferente, uma elegância notável, um “observador(...)príncipe que frui por toda parte do fato de estar incógnito”(21). Baudelaire ainda cita o nascimento dos dândis no tempo e espaço:


“o dandismo aparece sobretudo nas épocas de transição em que a democracia não se tornou ainda todo-poderosa, em que a aristocracia está apenas parcialmente claudicante e vilipendiada. Na confusão destas épocas, alguns homens sem vínculos de classe, desiludidos, desocupados, mas todos ricos em força interior, podem conceber o projeto de fundar uma nova espécie de aristocracia, tanto mais difícil de destruir pois que baseada nas faculdades mais preciosas, mais indestrutíveis, e nos dons celestes que nem o trabalho nem o dinheiro podem conferir. O dandismo é o último rasgo de heroísmo nas decadências(...)” (51)


Este dândi, de certa forma político e socialmente presente, ainda aparece na obra de Guys, segundo o autor:


“Será que preciso dizer que G, quando desenha um de seus dândis, dá-lhe sempre seu caráter histórico, até mesmo lendário, ousaria dizer, se não se tratasse da época presente e de coisas consideradas geralmente como levianas?” (52)

Outra característica básica do artista moderno, juntamente ao dandismo, seria ser um flâneur (segundo o Dicionário portuguê-francês francê-português do MEC, 1961: FLANEUR, FLANEUSSE: o passeia sem rumo, vadio. FLANER: flanar, vadiar). Mas este artista flaneur tem um objetivo mais elevado que ser um simples vadio, evidentemente. Sua vadiagem está carregada de observação ativa e atenta ao mundo que o cerca, usando seus esforços para tirar do cotidiano o que há de poético. Baudelaire exemplifica e exalta esta atitude com uma frase aplicada à Guys, após discorrer sobre a observação de obras antigas: “começou contemplando a vida e só muito tarde se esforçou para aprender os meios para expressá-la” (29). Baudelaire acredita que, a partir desta observação, do flâneur, o artista moderno conquista sua originalidade. E, por originalidade, na arte moderna, pode-se entender a ambigüidade nas obras; a dualidade – como conseqüência da dualidade do homem; o eterno e o mutável.


Baudelaire deixa explícita a valorização do tempo presente na Arte Moderna: “o prazer que obtemos com a representação do presente deve-se não apenas à beleza de que ele pode estar revestido, mas também à sua qualidade essencial do presente”(08). Este presente diz respeito também a um valor não apenas artístico, mas também histórico, uma obra de arte que contenha a estética e a moral de sua época (09). E, dentro deste pensamento, o autor cita alguns artistas ícones de seu tempo nas artes visuais (além do próprio Guys: Gavarni, Daumier, Maurin, Wattier, Tassaert, Éugene Lami, Trimolet e Traviès) e na literatura (Stendhal e Honoré de Balzac). Boa parte destas citações encontra-se no capítulo dedicado ao croqui de costumes, onde “a representação da vida burguesa e os espetáculos da moda, o meio mais explícito e menos custoso evidentemente é o melhor.”(12)


Devemos lembrar que costumes diz respeito ao momento social que a sociedade vivencia: seus costumes sociais gravados tão bem nas caricaturas de Daumier quanto nos textos de Balzac na Comedia Humana.


O artista segundo Baudelaire segue, solitário e com a imaginação ativa, viajando pelo deserto de homens, em busca da tal modernidade. Ele precisa “tirar da moda o que esta pode conter de poético no histórico, de extrair o eterno do transitório.” (24) O autor critica a tendência dos pintores vestirem seus personagens com roupas antigas, pendendo ao passado. Chama a estes artistas de preguiçosos – aliás, o texto de Baudelaire é agressivo e impiedoso com o artista “antiquado” de sua época: “é muito mais cômodo declarar que tudo é absolutamente feio no vestuário de uma época do que se esforçar por extrair dele a beleza misteriosa que possa conter, por mínima ou tênue que seja” (25) ou “Suprimindo-os, caímos forçosamente no vazio de uma beleza abstrata e indefinível, como a da única mulher antes do primeiro pecado” (25-26). Baudelaire defende que cada época tem seu gesto e seu olhar, acha até certo estudar as obras antiga, mas adverte:

“Ai daquele que estuda no antigo outra coisa que não a arte pura, a lógica e o método geral. De tanto se enfronhar nele (no antigo) perde a memória do presente; abdica do valor dos privilégios fornecidos pela circunstância, pois quase toda a originalidade vem da inscrição que o tempo imprime às novas sensações”.


Baudelaire ainda nos diz que “bons e verdadeiros desenhistas desenham a partir da imagens inscrita no próprio cérebro, e não a partir da natureza” (30). Ou seja, de fora para dentro, a introspecção que faz surgir o trabalho moderno. Descrevendo Guys, ele demonstra duas características a serem observadas na arte moderna: um esforço de memória ressurreicionista, uma memória que evoca a imagem vivenciada pela retina; e um lápis ou pincel em chamas, quase num furor sobre seu suporte, como se o tempo fosse algo precioso demais para ser desperdiçado (32). Finalizando, Baudelaire conclui: “nosso singular artista exprime ao mesmo tempo o gesto e a atitude solene ou grotesca dos seres e sua explosão luminosa no espaço.


“Sobre a modernidade: o pintor da vida moderna” possui treze capítulos onde Baudelaire nos dá uma aula não apenas de história da Arte, como também de observação artística. Retornamos a indicar a leitura do volume a todos aqueles que desejam afinar seu conhecimento e sua visão artística.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Jabor e a felicidade

Arnaldo Jabor - Ser feliz é parecer feliz

Ontem comecei um filme sobre a "busca da felicidade", essa ideia fixa do Ocidente, transcrita até na Constituição americana. No filme, não trato da atual "bem-aventurança" atual, mas de uma felicidade "de época", ao fim dos anos 50. Não havia ainda a abertura "psicológica" de hoje; a felicidade se encolhia pelos cantos de um cotidiano reprimido, temeroso de grandes alegrias, dentro e fora das famílias. Era quase feio demonstrar muito prazer, como se a risada fosse um luxo. Minha avó aconselhava: "Cachez votre bonheur" (esconda sua felicidade)... Era diferente do narcisismo compulsivo que vemos agora, com ricos, jovens e famosos expondo suas gargalhadas na mídia.Felicidade muda com a época. Antigamente, a felicidade era uma missão, a conquista de algo maior que nos coroasse de louros, a felicidade demandava o sacrifício. A felicidade se construía. Hoje, felicidade é ser desejado, é ser consumido. Confundimos nosso destino com o destino das coisas. Uma salsicha é feliz? Os peitos de silicone são felizes?Ja escrevi sobre isso e volto agora por causa do filme, ao examinar com fascínio as revistas mundanas. Olho com inveja e rancor as fotos dos afortunados, pois todos são mais felizes do que eu. Ser feliz é parecer feliz.A dúvida e as dores da vida são ocultadas. Já houve tempo em que era chique não sorrir, já houve os olhos fundos dos existencialistas, a cara abatida dos beats, fotografias em que o espectador era olhado com desprezo acusatório. Hoje as celebridades parecem dizer: "Azar o teu por não estares aqui, seu anônimo. Aqui, não há fracassos, não há o Inconsciente. Ninguém pode deprimir. Tristeza não é comercial.Tudo é claro e óbvio como nossas gargalhadas."Na felicidade industrializada, só o excesso é valorizado. Não há a contemplação elegante da delicadeza, nem a tradição de uma feliz sabedoria, de uma serenidade discreta. Nossa felicidade não é minimalista; está mais para uma imitação carnavalesca de Luiz XIV.As personagens da mídia feliz vivem como se não houvesse armadilhas na existência; apenas o narcisismo óbvio é cultuado como sendo o ideal a atingir. Este conceito redobrou em força, depois que morreram os antigos agentes da dúvida, os socialismos e desbundes. Assistimos ao triunfo da caretice disfarçada de libertação.As fotos dos deslumbrados e deslumbrantes não precisam de caricatura; elas se criticam sozinhas, elas são paródias de si mesmas."Estaremos aqui para sempre, eternos em nossas baladas e desfiles - parecem dizer -, conquistamos isto tudo, estes cães de luxo, estas sopeiras de porcelana, este vaso Ming falso."Muito importante é ver, nas fotos de milionários e colunáveis, a cenografia onde eles posam como peixes em aquários de luxo, orgulhosos de seus tesouros: as casas e eles mesmos.Não se veem vestígios dark. Tudo é novo, tudo brilha, tudo é presente. Contra o decorrer do tempo, existem os make overs, jorros de silicone e bochechas de botox. Para essa gente, não houve crises e mudanças no mundo. Não houve anos 60, nem guerras quentes e frias, nem fraturas ideológicas, muros caídos, fim de utopias, nada. Não aprenderam nada e não esqueceram nada, como disseram dos Bourbon. Nas fotos, só aparecem gestos e coisas que gritam: lustres de cristal, galgos de bronze com olhos de safira, mármores falsos, ouro de tolos, ninfas de marfim, objetos no estilo catete-gótico, barroco, Teodoro Sampaio ou Lar Center, atacando a arte contemporânea numa blitz feroz. A decoração dos ambientes é para eles ou eles são para a decoração? As pessoas combinam com a casa. Uma vez uma perua me perguntou como era o restaurante aonde iríamos, para botar uma roupa que combinasse. É extraordinário como para eles tem de haver continuidade no mundo, uma coisa puxando a outra, numa lógica que começa num elefantinho de prata e acaba na ideia de Deus.Em muitas fotos parece não haver figura e fundo. Há fotos em que os eternos felizes posam orgulhosos diante de seus retratos, criando um efeito narcísico de espelhos infinitos. Quem está ali? A dona ou o retrato?Tudo ali é controlado pela ideia de simetria total. O abajur tem seu par, o castiçal tem seu par, o marido abraça a mulher em perfeita perspectiva com as duas colunas romanas que os ladeiam e todos os pecados se apagam ali no sereno tapete e no brasão do jaquetão de comodoro. Tudo passa a ideia de autossuficiência, de ilha de paz e tranquilidade, realização do ideal de casa, contra a rua do mundo. São abrigos contra o mundo, são abrigos antiatômicos num estilo rococó que resiste a todos os avanços do bom gosto; ali, pode-se viver, andar de cavalinho de plástico na piscina e rolar no veludo durante qualquer catástrofe econômica ou política. Nada os atingirá.Os "venturosos" contemporâneos não se contentam em mostrar seus bens, caras e bocas; se sentem tão acima de nós, que adoram exibir e justificar qualquer vício, perversão ou vexame que cometam. Não há mais nada a esconder; ao contrário - eles têm o prazer de ostentar uma mentirosa autoconsciência, como se tivessem controle sobre o que são. "Ah... sim, eu já me prostitui muito, sim, eu gosto de transar em mictórios públicos, sim, me excita até ver cenas de crimes ou chacinas - me sinto liberado... sabe? Mas, tudo numa boa, sacou? Sou livre e maduro."Mas, afinal, temos liberdade para desejar o quê? Bagatelas, mixarias, uma liberdade vagabunda para nada, para rebolar o rabo em revistas, uma liberdade fetichizada, produto de mercado disfarçado de revolta de festim. Somos livres dentro de um chiqueirinho de irrelevâncias, buscando ideais como a bunda perfeita, recordes sexuais, sucesso sem trabalho, a fama em vez do merecimento. Não precisamos fazer nada ou saber nada. Basta aparecer, pois o pior castigo é o anonimato.No futuro (se houver algum...), essas colunas e revistas de ricos e famosos serão uma valiosa contribuição para a semiologia da nossa caretice.
Coluna de Arnaldo Jabor para o Estado de São Paulo - 12.05.09
Quem quiser que comente!

MARIANA GOMES DANÇA NA CAIXA CULTURAL DA SÉ

A bailarina Mariana Gomes apresenta seu trabalho dentro do grupo Danceato na Caixa Cultural da Sé. Pra quem não a conhece, esta menina é formada em Ballet na Escola Nacional de Ballet, já andou estudando na escola de Ballet Stanislavsky lá na mãe Russia e atualmente dá aula na Academia Studio Arte & Dança de Keila Fuke. Nobre, pequena, notável e talentosa, seu trabalho corre por São Paulo, Garulhos e Diadema. Não percam. Pernas belas e talentosas como as dela são peças raras para se apreciar com água na boca! Recomendadissimo, senhoras e senhores!


TRÊS MOMENTOS DO MOVIMENTO
grupo Danceato
direção e coreografia: Ana Bottosso

de 08 a 17 de maio
CAIXA Cultural - Grande Salão da Sé
(Praça da Sé, 111 - Centro)
sextas e sábados: 19h30 / domingos: 18h

terça-feira, 12 de maio de 2009

AD PREPARA MEDÉIA - CLAUDEMIR SANTOS PROMETE INICIO DE DRÁCULA PRA JULHO - SOBRE 2 RODAS NA GELADEIRA

Pois é, vamos aos resumos da atividade do único grupo de teatro heterossexual do planeta:
1. Os Estudos de Medéia iniciaram-se e o roteiro foi entregue. Baseado nos textos clássicos de Eurípedes e Sêneca, adaptado por Claudemir Santos com direito àquelas visões que o bicho tem de poesia, violência e espaço cênico, a Medéia do AD contará a história da filha de Hécate e Helios que é expulsa de Corinto por Creonte e abandonada por Jasão que a troca pela jovem e virgem Glauce. Medéia é uma feiticeira, uma espécie de bruxa cheia dos poderes que se vingará de todos de forma incomum, que deixaria Tarantino e Rodriguez de boca aberta - pretensão pouco é bobagem, é vero!
Clara Barbosa será a vingativa Medéia e Marcos Antonio o nobre - e canalha - herói Jasão. Sim, aquele do velo de ouro. O elenco contará também com Isa Diaz no papel de Ama e possivelmente conte com a volta de Karen Danielli ao palco, depois de passar um ano na geladeira do diretor.

2. Questionado por vários bêbados, o ébrio Claudemir Santos relatou que deseja começar os prepativos para Dracula em julho. Mais ébrio ainda, deixou publico o desejo de ter Ivan Neris no elenco. Bêbados sempre falam. Quero ver é este monte de ébrio realizar uma montagem sóbria e sombria do romance de Bram Stoker.

3. Bárbara Ramos prepara-se para trocar de joelho e o AD decidiu enfiar as Duas Rodas na geladeira. O espetáculo, que foi montado exclusivamente para o mercado de motofrete e adjacências, não tem lá muito a ver com o trabalho artistico do grupo. Juntando isto ao desinteresse da "categoria" em apoiar ou pelo menos assistir o espetáculo, o grupo resolveu deixar a peça de lado. Não tem aquela história de que o artista tem que ir onde o povo está? Pois é, neste caso, se o povo quiser, que venha. Os artistas estarão logo ali.

4. "Quebra facão" realiza show e mostra caras ainda não muito definidas. Inseridos em um projeto musical, colocaram no mesmo balaio Raimundo Marrom, Tiago Araujo, Claudemir Santos, Nando Z, Tarcisio Hayashi e até o divino Vinicius Casé. A esta mistura insonsa estão chamando de Quebra facão. A idéia é boa e as apresentações estão rolando e vão rolar mais ainda. Mesmo assim, deve-se tomar cuidado com a identidade cultural do trabalho de cada um, pois, se perdemos as identidades, vai dar o maior rolo quando os homens chegarem, e eu não quero ser preso por causa da droga de ninguém!

Abraços. Vo ali e volta já!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

RATINHO VOLTA AO SBT – E EU RECOMENDO ANTES QUE ELE ME ESCULACHE!

“Ratinho tá de volta. Quem gosta, assiste. Quem não gosta, assiste escondido e não conta pra ninguém porque tem vergonha de dizer que gosta.”
(Xaropinho)

Nesta segunda 04 de Maio, às 17:30h, eu tive o imenso prazer de assistir a estréia do novo programa do Ratinho. Amei. Acho o programa o maior barato. Um circo onde grotesco, informação, denuncia social, farsa e uma alta dose de humor duvidoso e anti higiênico se misturam de uma forma incomum em outros programas do gênero – isto graças ao cronner Carlos Massa, vulgo Ratinho. Sei que os intelectuais de plantão sempre torcem o nariz quando o lance é pop popular, mas depois de Zeca Baleiro cantando Wando na Virada Cultural e um monte de neguinho – e neguinha – cabeça, universitário ou a porra que for, cantando o refrão junto, não há quem me tire da cabeça que essa hipocrisia cultural está indo brega abaixo a cada dia que passa!

E não tem nada a ver com o grau de intelectualidade do Massa, nem com aquela ajuda interesseira aos necessitados ou mesmo ao humor chulo e grotesto para as tardes televisivas de um país inteligente e humano como o Brasil. O formato do programa rende-se ao carisma do apresentador e sua sinceridade de frente às câmeras que, mesmo diante daqueles casos tristes e sensacionalistas, sempre tem uma piada de mau gosto ou um esculacho para alguma autoridade que esteja na mira do plobrema. Agora sério: um apresentador que vai na mira da objetiva de uma câmera e diz o que pensa com todas as palavras possíveis da forma mais clara possível , estando certo ou errado e se retratando se for o caso, é algo tão raro de se ver na história da televisão, que me remete a épocas ancestrais, quando bufões se postavam diante de reis e nobres para cuspir verdades em suas faces sem a menor preocupação. Isto é que eu gosto no senhor Massa: um autêntico bufão sem medo de que lhe cortem a cabeça. Ouvido pelo povo e pelos nobres, o homem incomoda e causa temor. Um esculacho dele é pior do que um comentário crítico de Boris Casoy ou coisa parecida.

Resomindu, eu gosto do Ratinho mermo di mermo. Deve ser um dos poucos – senão o único! – apresentador genuíno de um programa produzido por televisão. Ele é tosco, boca suja e desaforado, com um requinte de humor duvidoso para ouvidos que gostam de manter aquela aparência limpa e socialmente aceita nos concertos eruditos do Municipal. Desculpem, senhores. Ratinho veste social e fala como povo para o povo e atiça cidadãos na alma de qualquer um!
Neste primeiro programa, com os assuntos de sempre novidade alguma: drogas, menino que vira cachorro, ligação do governador José Serra e uma aparição “surpresa” do cantor pop sertanejo Leonardo (ou é Leandro? Eu nunca sei qual dos dois morreu!). O circo televisivo é completado por uma secretária italiana que não fala português, uma banda pior que a do Jô (esculachada mesmo!), o boneco Xaropinho e erros – propositais ou não – de produção e etiqueta televisiva. Decerto Tarantino e Rodriguez adorariam este trash tupiniquim. Eu não o nego. O bom gosto é cansativo e tem muita maquiagem escondendo a face verdadeira. Eu fico com o Ratinho, sempre que posso – e entendo todas as piadas do CQC. Não preciso parecer inteligente, senhores – e, pra ser inteligente igual a muitos, eu prefiro mesmo é ser burro! Viva ao Wando! Digo, ... Viva ao Zeca Baleiro, que é intelectual qui neim eo e canta Wando, Odair José, Adoniram Barbosa e sauda Stephen Fry, sem medo de parecer brega!

Frases antológicas do Ratinho em seu primeiro programa:
“Rapaz! Um caminhão de maconha!? É muita maconha! Mas também, com tanto de maconheiro que tem por aí! Só aqui no SBT tem um monte!”
“Não me censura, não, se não eu falo os nomes!”
“Uma emissora com mais de dez mil funcionários, você vai me dizer que não tem um que nunca deu um tapa na macaca? Ah, vá!”
“Vamo prestar atenção que o assunto é sério... Apesar q’eu sempre esculacho tudo!”
“O Ronaldinho gordão não quis receber nossa equipe. Deixa ele aparecer com um traveco, deixa!”
“Aqui não tem baixaria, não! Quem tem baixaria é o Datena!”

CREPUSCULO: VAMPIROS IVANERISTAS E SITUAÇÕES PRECONCEITUOSAS

CRESPUSCULO: um filme com vampiros lindos e frouxos, negros desastrados e índios perdedores (27 04 09 22H)


(ATENÇÃO: EU COMENTO O FILME TODO AQUI. SE DESEJA ASSISTI-LO EM BREVE, NÃO LEIA! EU CONTO TUDO! TUDO MERMO! APESAR DE SER MAIS PREVISIVEL DO QUE A HISTORIA DA CHAPEUZINHO VERMELHO!)

Acabei de ver “Crepúsculo” (Twilight) e suas duas horas de vampirismo açucarado. O filme não é ruim, não: bem feitinho, cumpre bem sua proposta de entretenimento. Nem bocejei. Mas realmente é apenas mais um filme típico para adolescentes. Mas... Como não podia deixar de ser... Notei alguns pontos interessantes nesta adaptação do romance de Stephenie Meyer que, ao passar para a telona, demonstra monstros americanos mais impressionantes que os vampiros embonecados. Não sei se o livro é assim – e nem vou saber, a não ser que alguém leia, me conte e eu acredite. Mas voltemos aos detalhes que percebi no inocente filme americano para ensinar menininhas escolher namorados bonitos e melancólicos que ainda não são gays:
Belle encontra os peles vermelhas (o pai índio paraplégico {que acabou de vender uma pick up para o pai da personagem} e seu filho, um coleguinha dela de infância que, evidentemente, não tem carro). Ao convidar o amigo de infância para ir com ela à escola, ele diz que não pode porque estuda na reserva. (Fato social dos EUA, eu sei. Nada demais até então);
A garçonete da lanchonete é uma espécie de mulata ou cafuza. (tudo bem. Fato social e blá blá blá – mais uma vez!)
Lá pras tantas, o único aluno negro da escola perde o controle do carro e quase mata a mocinha. (Tudo bem, fato social: negros sempre perdem o controle, mais cedo ou mais tarde!)
O chefe dos vampiros malvado é negro. (eu sei, eu sei... coisa da minha cabeça!)
Os caras que atacam a mocinha estão com latas de cerveja nas mãos, insinuando uma certa embriagues (isto dá uma má visão de muita gente que anda comigo!) E eu tenho certeza que, se o filme rolasse em São Paulo, eles estariam vestindo a camisa do Corinthians! (E os vampiros do São Paulo, possivelmente!)
Tem uma cena no posto, que todo mundo tá com mulher, exceto o neguinho que quase baba ao beber a cerveja.
Aquele negro malvado, o vilão afro descendente indecente, entrega o próprio amigo aos vampiros belos e bonzinhos, de bandeja, porque não gostava mesmo dele. Ou seja: duas caras, fingido e delator!
O pobre índio, que logo logo vai virar um lobisomem, tenho certeza!, nem pode entrar na porra do baile da escola.
No final, Edward não chupa a Belle. (ou seja, meninos comportados tem finais felizes!).

Não que estas coisas me incomodem real ou seriamente, ou que a minha consciência negra esteja em reação defensiva contra estes vampiros burgueses, arianos e frouxos. Nem sonhem com isto! Quem me conhece sabe que não sou afetado por estas coisas e nem faço discursos de gente dodói. O lance é que o negócio é tão explícito que não pude deixar de comentar. É legal ter uma visão clara das mensagens subliminares que Hollywood nos envia através de alguns filmes. Acredito que o pior tipo de racismo e discriminação se dá em nossas referências culturais, formando em nossa mente, indiretamente, arquétipos sociais: índios inválidos que precisam vender carros velhos, negros desastrados e delatores; subalternos sul-americanos, e por aí vai. Estas imagens, em um filme de entretenimento, para pessoas que só assistem entretenimento e não tem o menor senso crítico na alma – e são muitos! – geram conceitos acomodados na vida real, ainda mais na cabeça de adolescentes.
De qualquer forma, o filme não causa maiores interesses que dão margem a teorias de conspirações. Se vou assistir a possível continuação? Bom... Se eu tiver namorando uma menininha de 16, 17 anos, eu até vou ao cinema. Nada bonito, eu sei, mas eu nunca quis ser um desses vampiros bonzinhos. Deus me livre! Lá, ele!!!




BONUS: Estes vampirinhos...

Tive conhecimento do livro de Meyer o ano passado no Studio Arte & Dança. Minhas alunas, meninas inteligentes e talentosas, iniciando suas adolescência entre livros, dança, teatro e rock n roll, me mostraram o volume e até ofereceram emprestado. Ao ver aquele negócio, com mais ou menos quinhentas páginas, agradeci o convite. Meses depois, vi o cartaz no cinema, indicando que em breve teríamos um novo filminho de vampiro. Danou-se!
Eu não li o livro, mas acredito que as descrições sociais que fiz acima fazem mais parte do imaginário de Catherine Hardwicke, a diretora do filme, do que da autora do livro, o que não limpa a barra dela por transformar uma das criaturas fantásticas e fascinantes do cinema num metrossexual que não presta nem pra chupar o sangue das menininhas. O Vampiro de Meyer, ao meu ver, perdeu alguns encantos, ou melhor, trocou-os por uma beleza eterna, mas vazia e efêmera.
Estes vampiros brilham à luz do sol, como se estivessem cobertos de purpurina; aparecem no espelho, relacionam-se com a sociedade local e andam de dia para lá e pra cá, se o dia estiver nublado, além de ter uma casa praticamente de vidro. Dormir? Não dormem. E mais, esqueçam as estacas! Corte-os em picadinhos e jogue-os no fogo, se quiser matá-los. Fortes, ágeis, belos, destroem em duas horas de filme uma visão rica e cheia de significados do vampiro tradicional, deixando o personagem vazio e incapaz de até se alimentar de sangue humano.
Isto estraga o filme? De jeito nenhum: a molecada, principalmente as meninas e os meninos afeminados e com sonhos de aparecer na Malhação, vão adorar! Mas não se preocupem: o filme não vai destruir a visão milenar da criatura das trevas que tantos amam e veneram. Drácula está aí há muito, muito tempo! Vão, bichinhos, vão na locadora! Assistam o filme... Sem susto, claro!

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Outras formas

Passeando pelas futilidades da Tv paga, deparei-me com uma inusitada produção espanhola chamada " A espinha do Diabo", com produção de Pedro Almodovar e direção de Guilhermo del Toro o filme navega no delicioso (para quem gosta) ambiente do suspense sobrenatural, com uma trama e elaboração cinematográfica impecáveis esse curioso filme introduz o espectador em uma atmosfera de medo e ansiedade a cada cena, porém escapulindo das retóricas formulas de ficção de terror americanas, tranzendo para este genêro o contundente estilo de interpretação espanhol, o filme tem realmente uma história palpável à nossa racionalidade!, bem como um corajoso (também poderia ter sido utilizado o termo "raro") posicionamento intelectual. O filme também conta com uma atuação intensa de Eduardo Noriega ( do filme "Plata Quemada" entre outros), posso afirmar sem exitação que senti muito medo em várias cenas, mas me surpreendi alegremente com a conclusão da trama, vai ai a dica, quem encontrar alugue ou baixe "A espinha do Diabo".