terça-feira, 19 de maio de 2009

II Encontro Cultura e Sustentabilidade do CDC Tide Setubal São Miguel. Lá nós!

Acordei. Tomei banho. Vesti as roupas de sempre. O indispensável: óculos escuros, luvas velhas de couro sintético. Bicicleta. “Não vai tomá café, Nê?”. “Vô não, mãe.” Desci em direção ao CDC Tide Setúbal para o II Encontro Cultura e Sustentabilidade. Já na entrada, Ceciro Cordeiro, Raberuan e Gilberto Travesso cumprimentando alguns que chegavam naquele instante, entre eles, eu. Minha primeira questão sobre o evento tem a resposta positiva: o café da manhã ainda não tinha terminado.
Credenciamento, café burguês e as personalidades locais chegando: Zulu de Arrebatá, Júlio Cezar, Walter Passarinho, Valdir Aguiar, Wagner Tadeu, Francisco Makumba, Sacha II Gabriel, Sacha, o Arcanjo, Akira & Sueli Kimura, arquiteto Ruy Barbosa, Josafá Pereira, seu Eurico (o coordenador oficial da Casa de Cultura de São Miguel, vestido a rigor, tal qual um agente funerário, segundo Nando Z), alguns politiqueiros, a imprensa local e, por fim, o não menos importante, Nando Z, de bermuda, tênis, camisa social manga curta azul marinho e uma fome dos diabos. À mesa, enquanto comíamos, encontramos o ator e produtor Cláudio Gomes – o único que, mais adiante, teria a atitude decente de fazer uma observação crítica ao figurão do dia.
Ao longe, eu observava Maria Alice Setúbal fazendo sala para Alfredo Manevy, secretário executivo do Ministério da Cultura – um cara alto de barba escrota, rabo de cavalo e terno com jeito de emprestado, ou seja: parecia ser artista. Na sala, com ela, Sacha Arcanjo, o embaixador da cultura de São Miguel. Neste momento, eu e Sacha II, observávamos um belo casal emo de lésbicas e comentávamos, enquanto Nando Z olhava duas respeitáveis senhoras bem vestidas e dizia: “Lésbicas, é? Que delícia!”, pensando que as lésbicas eram elas. Vimos que o seminário teria lá seus equívocos logo neste momento.
Após o café (quinze lanchinhos e dois litros de suco), fui à Biblioteca Raimundo de Menezes, emprestei livros sobre utopia, alienação, estética visual e voltei para o CDC. O local estava lotado. Lotado, digo, umas possíveis 50, 60 pessoas. Perdi o começo, mas até imagino: Tião Soares deve ter tirado – como sempre – um teórico de sua preferência da manga – ele adora citar estes tipos – e passou o microfone para Maria Alice Setúbal que, após breve discurso, passou o microfone para Manevy – que foi quando eu cheguei. A autoridade pediu licença, ficou em pé e começou um simpático discurso relatando o quanto a cultura estava abandonada no país e como foi bom para o país que a esquerda petista (evidentemente não com estas palavras, mas eu não sou bobo) colocasse-a nos eixos pois, segundo ele, o PT “colocou a cultura na agenda política no Brasil” e que “historicamente, a cultura não foi tratada como política no Brasil, achamos (a pasta) em estado precário”. O discurso é belo e está recheado de meias verdades ou de meias mentiras, dependendo do ângulo. Nada demais: não esperem outra postura de qualquer autoridade. A pena é que Manevy não sabia segurar o microfone, tendo que ser interrompido várias vezes por Tião Soares para que enfiasse o microfone na boca direito – lá, ele! Manevy é carismático e tem um senso de humor suave e contagiante. Risos simpáticos do público. Microfone devidamente colocado de frente à boca. Volta o discurso. Mais umas duas ou três vezes foi pedido que segurasse o microfone corretamente. Depois, desistiram.
De cabeça, Manery apresentou dados pesquisados por órgãos como o IBGE sobre a situação cultural de nosso país. Um desses dados, por exemplo, foi pesquisado no segundo ano do mandato de Gilberto Gil, que aponta que 90% da população do Brasil não tem acesso aos equipamentos culturais. Outro, revela que 5% do trabalho formal encontra-se na área cultural e que, se juntarmos os trabalhadores informais da área cultural, este número vai a 10%. Falou sobre a visão dos outros ministérios que, quando querem realizar cortes no orçamento, olham logo para a pasta da cultura, por parecer para eles algo supérfluo. Acredito que foi a fala mais coerente de Alfredo Manevy, num jogo aberto sobre os bastidores do congresso onde Gil ia pedir verba para Lula e seguia-se, mais ou menos, o seguinte diálogo:
“Gil, não me peça mais estas coisas!”
“Presidente, mas eu tô aqui para isto! Reivindicar para a cultura!”
Ou mesmo – e mais chocante ainda – quando uma ou outra figura (não foi citado nomes) do Governo dizia:
“Gil, você não pode resolver tudo. Concentre-se em algo que dê visibilidade!”
“Não posso ver a cultura como uma parte.” – dizia Gil – “Como posso olhar parte de algo que é um todo? Como posso olhar o cinema e esquecer o teatro, a música, as artes visuais?”
Estas, sim, são posturas críveis dos governantes deste país que, quando querem cortar verbas publicas apontam a tesoura para a Cultura. “Eles não tem compreensão do papel da cultura”, disse o palestrante.
No mais, Manevy levantou três dimensões importantes da cultura para o Brasil: a dimensão simbólica, que “ultrapassa o limite funcional”. Foi o que ele disse, juro! A segunda dimensão: direito e cidadania no que diz respeito a acessibilidade à cultura e seus equipamentos. Algo do tipo: a cultura como prioridade básica dentro de todo e qualquer governo. Lindo, eu sei, o que não vai adiantar muito se a mídia continuar socando boca adentro estas porcarias televisivas e descartáveis que alguns uns e outros tão chamando de cultura – o que abrirá uma ampla discussão sobre a qualidade do produto cultural artístico na mídia.

(Lembra quando você pensou que seria o cúmulo sua filha querer ser a Carla Perez? Não fizeram nada, e agora sua neta quer ser uma mulher fruta e o filho do vizinho é uma lacraia há algum tempo. Imagina o que vem depois disto...)

O terceiro tópico eu perdi porque alguém me chamou pra comer alguma coisa e eu fui. Espero que Nando Z não tenha cochilado e poste aqui a idéia de Manevy que, na maior parte do tempo, teve um discurso coerente dentro do tema, muito bonito até pro meu gosto.

O debate eu nem ouvi. E nem perguntei nada, também. Fiquei ali conversando sobre a cena artística da praça Roosevelt e Mario Bortolloto (é assim que se escreve?). Outras, ouvindo o papo furado dos que perguntavam isto ou aquilo sem nenhuma novidade. O único que teve uma pergunta que me chamou a atenção foi Cláudio Gomes que deixou claro que não adianta a verba na mão dos grandes já que elas não chegam aos pequenos: já que é pra fazer um política cultural publica para todos, que todos sejam incluídos. Como fazer isto? Manevy e sua equipe que se vire. Eu to de olho mesmo é naquela magrela ali! Ou, ainda mais: “amigo meu até a página três”, como disse um certo amigo sobre as personalidades presentes, doidas para morder algo que não fosse um lanchinho burguês.

Final do evento. Lançamento do livro “Cultura: diálogos para o desenvolvimento humano”, que diz respeito à primeira reunião, realizada no dia 13 de setembro de 2008. Folheamos o livro eu, Nando Z e Sacha II, atrás das nossas fotos. Todos os bonitinhos estão representados nas fotos de Verônica Manevy (será ela parente do homem?), que tem uma objetiva fenomenal para capturar pessoas em movimentos e articulações – observem: ninguém estático! Mas acredito que as fotos poderiam não ter sido tão semelhantes uma da outra, e que o trabalho da fotógrafa fosse mais bem aproveitado. Fora isto, o cidadão que transcreveu o áudio colocou-me dizendo: “Eu sou diretor do Pólo Cultural”. Como o cara tirou “pólo” de Alucinógeno, eu não sei. Nando Z riu que quase se mijou, e alguém ainda disse que “Pólo” é melhor que
”Alucinógeno”. Como nunca experimentei “pólo”, a não ser camisa – que eu nem gosto – não vou contestar. Espero que Tarcisio Hayashi possa me tirar esta dúvida. Além de comer esta bola logo comigo, o livro também tem vírgulas e pontos desnecessários aqui e ali, mas o restante é muito bom: encadernação invejável, fotos fantásticas, frases de efeitos ideais para reflexões e letras de bom grado para leituras. É bom ter dinheiro, hein!?

O melhor mesmo foi no final dos finais, quando a Folia de Reis de São Miguel, um grupo de senhoras e senhores respeitáveis, tocavam suas canções emocionadamente, enquanto as autoridades principais presentes estavam do outro lado da mesa de comida burguesa fazendo politicagem antes de voltarem para trás de suas mesas e bolarem os próximos assuntos que tratariam em algum seminário que gere renda para uns e outros, com assuntos que, aparentemente, não precisam ser resolvidos, apenas eternamente discutidos! Foi lindo!

Peguei pesado no texto acima? Bem sei. So sorry, como diria Morrissey. O que eu gostaria mesmo é que estas conversas fossem transformadas em ação o mais rápido possível, e não pelas autoridades, mas sim por nós cidadãos, artistas e produtores artísticos. Ao invés de esperar pelas tetas do governo, é melhor crescermos e sermos fortes. Pois todos nós sabemos eu esta ama tem seus beiços preferidos, e que isto muito pouco tem a ver com aquela chacota direito do cidadão, dever do Estado. Lá, ele! Por isso, lutem pelos Direitos que todos nós temos até consegui-los, mas assim mesmo não se iludam: realizem sua Arte o mais rápido possível! Se liga que tu não é gestante pra ficar “esperando nascer”.

(O engraçado é que Tiago Araujo havia criado um blog para que os participantes colocassem as idéias discutidas em prática o mais rápido possível. Este Blog fechou porque ninguém deu atenção e ou se interessou. É claro que não: Tiago Araujo é apenas um artista sem fins politicos para justificar seus meios).


EPILOGO:
Nando Z chega e me diz:
“Odete Roitmann ressuscitou.”
“Quem?”
“Odete Roitmann. Ó a Beatriz Segal ali.”
“Aonde, Nando?”
“Ali, Claudemir, caralho!”
Olho a senhora de baixa estatura entre os figurões. Deu vontade de ir lá e dizer “Beatriz Segal? O que você faz aqui?”. Mas nem mesmo eu seria tão indelicado. Puta que pariu: vinte anos de teatro nas costas e nem reconheço uma atriz! Isto é o que dá não assistir televisão!

Um comentário:

Nando Z disse...

Bunitu, rapaz foi bem mais interessante vc contando Claudema, mais vc ñ disse que pisou no pé da beatriz, e depois que eu comer um pouquinho vou postar, já que somos os os tres mosqueteiros do blog!!