É o seguinte. Entre 2005 e 2007, o Alucinógeno Dramático realizou algumas edições de um sarau diferenciado que chamava ARTE CANAL. Diferenciado por quê? Bom, os artistas eram entrevistados e saíam em uma revista tipo fanzine. O público tinha, digamos, uma "pré consciência" do que ia ver, e levava aquilo pra casa. Muita gente passou pelo Arte Canal e, conforme for resgatando, vou publicando na SESSÃO DAS ANTIGAS. Também em breve publicarei a sessão AD HISTÓRIA, registrando aqui no Blog toda a trajetória do nosso grupo.
No mais? Divirtam-se, queridos amigos!
S o n i a M a r i a
Uma poeta que se mobiliza (POR IVAN NERIS)
Ao telefone, este pseudo repórter tentou captar um apanhado do expansivo pensamento desta criatura única, algo que não pode nem mesmo ser considerado um resumo, mas que por necessidade editorial, preencherá algumas linhas do nosso informativo. Fiquem, então, embevecidos com as torrentes palavras desta poeta Pernambucana, erradica em Sampa, funcionária do poder judiciário, militante política desde os anos setenta e principalmente, uma das mais pungentes mentes que conheci nos últimos anos. ARTE CANAL: Quem é Sonia Maria?
Sonia: Quem sou eu?... Eu não sei muito bem quem eu sou. Eu sou uma pessoa comum, que se mobiliza com as coisas. Não sou muito contemplativa; sou uma pessoa que se move sempre que algo me toca a sensibilidade. Se não passa batido, eu vou conferir; se não for um equivoco, como as vezes muitas coisas são, eu vou atrás. Tem sempre algumas luzes que piscam e me chamam a atenção. Foi assim quando comecei na militância política, até que um dia essa luz se apagou. Mas as idéias que me levaram a entrar na militância continuam em mim, e eu vou deixá-las como herança para os meus filhos. Ideais de não aceitar as injustiças, por exemplo. Eu acho que viver é mais importante do que tudo. Tudo mais é um acessório do viver e o viver plenamente é um direito do homem; é em busca disso que eu vou. Não como a filosofia dos grupos de direitos humanos, que vem mascarar essa busca em meio ao capitalismo que renega isso; mas a busca por uma vida verdadeiramente plena. ARTE CANAL:De onde vem Sonia Maria? Sonia: Começa em Pernambuco. As minhas referencias vem de lá. Estou aqui há trinta e cinco anos, e não perdi as minhas referências, não perdi a resistência do nordestino, a capacidade de envergar e não quebrar, algo que eu carrego de meu pai, de ter norte e referencia, algo que é uma herança da terra que nasci, aquela coisa de acreditar mesmo quando não dá mais pra acreditar.ARTE CANAL: Porque a poesia como linguagem?Sonia: Quando escrevo, eu tenho a sensação de recuperar algo perdido. Com a poesia eu me sinto parte de tudo: do universo, da natureza, das pessoas – embora sejam fragmentos somente – pois escrevo muito pouco. Mas ela me dá a oportunidade de poder falar o que não se consegue falar na linguagem coloquial; de poder dizer para as pessoas o que não se consegue dizer normalmente, de uma maneira mais subjetiva, que a prosa não permite.ARTE CANAL: Vale a pena escrever poesia num mundo de arte banalizada?Sonia: Vale, porque a poesia é um ato de resistência, poesia é inclusive um ato de resistência ou uma trincheira à banalização de tudo, da arte, da vida, de tudo! Minha poesia não é uma poesia de resistência obrigatoriamente; embora às vezes seja de resistência também, mas a poesia não precisa ser necessariamente de resistência intencionalmente engajada: a poesia lhe dá uma oportunidade de transgressão, o lado marginal da poesia, de estar a margem, e por isso vale a pena continuar escrevendo poesia sim.ARTE CANAL: Para onde está caminhando a humanidade, ela ainda tem jeito?
Sonia: Tem, se a gente fazer uma revolução social e acabarmos com o capitalismo (risos). E não sou eu quem está falando isso; é a história que prova. A decadência do império romano, a decadência desse império atual. A humanidade tem que ser salva, o homem tem que ser salvo, o homem tem coisas maravilhas para fazer e faz, embora eu não consiga crer nisso o tempo todo. Às vezes eu fico depressiva, mas aquela referência do nordestino que falei me conduz. Eu não sou uma otimista; eu sou materialista, no sentido de enxergar a realidade como ela é. Porém, eu tenho uma formação marxista, e ela é filosófica. A dialética marxista responde a inúmeras questões, o que me toca mais no marxismo é o aspecto filosófico, não o aspecto político ou econômico, mas o filosófico, que trata de questões humanas, e isto é uma alternativa. Eu acho que a humanidade tem jeito sim, vale a pena lutar pelo homem.
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