Esqueci o texto!!! Lá vai: (o título é provisório)
Depois de um dia de trabalho, a mulher chega em casa e vê, sobre a mesinha de centro, uma arma.
Sentado no sofá, indiferente às sacolas que acabam de entrar, à arma e à mulher, o marido dormita.
– Quê que é isso?!
– Comprei um trezoitão.
– Pra quê?!
– Vou matar alguém.
– Quê?! Tá loco?
– Não. Decidi. Vou matar alguém.
– Meu cê fumou merda? Que porra de idéia é essa?!
– ...
– ... ?!
– Já sei: brigou com o Erivaldo de novo!?
– Não, nem fui na obra hoje...
– Ah, que bom! Espero que cê lembre disso no fim do mês, tá?! Eu aqui toda fudida, quase dando bunda no trabalho, e o bonito aí, com o rabo colado no sofá! Ainda por cima com essa cara de bunda, olhando pro teto e falando bosta: vô matá alguém, vô matá alguém, nheim, nheim, nheim! Retardado! E, outra coisa: como é que cê comprou essa porra, se tava me pedindo dinheiro pro cigarro de manhã?!
– Comprei na boca do Tobias...
– Be-le-za! Além de débil-mental, agora Cê ficou burro! Tá envolvido com os canela seca!? Bela bosta! Assim cê vai bem...
– ...vou pagar depois...
– Como?! Dando o cu?!
– ...a gente fez um esquema aí...
– Esquema?! Que esquema?! Cê num paga, ele te mata? Anta!
– ...vô passar a televisão pra ele...
– Hã?! Nem fudendo!
– Meu, entende: eu tenho que matar alguém.
A mulher olha com saudades para a televisão. Sabia que quando ele colocava alguma coisa na cabeça, era ganho se apostado: ninguém tirava.
– Escuta, posso saber o porquê dessa idéia de jerico?
– Não.
– Hã?
– Quer dizer, não sei.
Disse isso enquanto recolhia da mesinha o trinta e oito e, com um pouco de cuspe e a ponta da camiseta, tentava algo parecido com uma lustrada.
– Vira essa porra pra lá! Tá carregada?!
– Tá.
A arma apontada para mulher, na altura dos seios, tremia nas mãos inexperientes.
– Meu cê tem certeza disso? Lembra que cê tem passagem...
– E cê acha que num sei? Eu tenho que matar alguém e pronto.
– E eu? Como é fico se te pegam? Cê um bosta, mas é o meu bosta...
O marido olhava para a arma e para a mulher, para arma e para a mulher, como se estivesse se certificando da distância certa, da precisão da mira, ou ainda, como se vasculhasse entre os miolos a idéia de imaginar-se sozinho. Sorriu de um pensamento obsceno: mulher gostosa do caraio!
A arma na mira dos seios.
– Por que cê num abaixa essa porra pra falar comigo?! Já falei, vira essa merda pra lá, inferno!
Ele sorriu novamente, pensou em penetrá-la ali mesmo, sem massagem, sem cuspe, à força do poder que a arma lhe dera.
A mulher um pouco mais comedida, vendo que a arma não fora abaixada:
– Peraí! Meu cê ainda tá com raiva de mim por causa de sábado? Puta que o pariu, cê é igualzinho à tua mãe: quando pega pra impregnar, num sai nem com água quente!
– Não é nada disso.
– Como não? Cê ta apontando o berro pra mim!
Queria ela naquela hora. Rasgar a blusa, estourar o zíper da calça, meter-lhe a arma pela boca, enquanto se projetava para dentro dos túneis que outrora lhe assustaram.
– Logo eu que sempre te ajudei, te ensinei a ser homem, limpei seu vômito, te pus na linha! É isso que eu mereço?
– ...
– Pára com isso, larga de bobice e vem aqui, me dá um abraço... eu te chupo até o fim... quer?
Um esgar de nojo perpassou pelo seu corpo e no mesmo instante, recobrou seu propósito original:
– Não. Tenho que matar alguém. Já falei.
– Puta merda! Se for eu, atira logo nessa porra! Mas pára de ficar repetindo tenho que matar alguém, tenho que matar alguém, já encheu o saco!
– Olha só, primeiro: não quero te matar, tenho motivo pra isso... ?
– Até parece! Cê acha que eu sou uma vadia?! Olha que eu tomo essa porra da sua mão e te meto uma azeitona na fuça!
– ...Segundo: essa a única coisa que eu realmente quero, e posso, fazer na porra da minha vida e você fica me azucrinando!? Cacete! Cê num diz que me apóia?! Me apóia nisso então!
– Mas até agora eu num entendi nada! Cê nunca foi dessas coisas, nunca nem segurou um troço desse! De onde cê tirou isso?! Pra quê?! Cê num tá vendo que cê vai se fudê?! ... Quê que cê ganha com isso?! ... Aliás, o quê que a gente ganha com isso?!
Olhando feito um guaxinim para a mulher, subiu um pouco a mira. Parou com a arma entre os olhos dela, desceu até boca, um devaneio cor de molho à bolonhesa se pintou em sua frente. Mirou a televisão: quatorze polegadas sobre um caixote da última feira. Mirou a infiltração e a janela sem beiral, e colocou a arma na cinta, cuidando para que a camiseta a encobrisse.
– Não sei porra! Tenho que matar alguém... Talvez eu teja querendo provar alguma coisa, me vingar de alguém, vê quanto sangue sai do buraco da bala, descobrir o que as crianças dizem antes de morrer, atirar num motoboy, num perueiro, no seu Oliveira da padaria, no viadinho que corta cabelo no salão da Silmara, dá um tiro no cú do Tobias, sei lá... pode ser qualquer merda dessa! Só sei que tenho que matar alguém, só isso. Pá, pum.
Sabendo que era inútil discutir, a mulher retrucou.
– Bom, já que cê vai sair, traz algum dinheiro, ou alguma coisa pra comer...
– Não sei... vô vê. Tenho que matar alguém primeiro.
E saiu: armado daquela que era a maior de todas as suas convicções, com uma camiseta da última eleição, grande o bastante para encobrir suas intenções e o trinta oito que carregava colado ao pênis.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
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5 comentários:
Bom! Acho que rola um curta sim. E tem um monte de ideias nas entrelinhas. Achei bem legal.
Valeu mermo!!!! É bom também!
Este texto de Tiago Araujo causou a interdição - será isto? - do blog nos telecentros da prefeitura de São Paulo. POis é; Araujo com seu texto profundo e escroto nos colocou na lista de sites não qualificados pela Prefeitura. Inveja da porra deste magrelo esquisito!
Porra bichu é vero mermu????
Eu sempre achei que um dos meu textos seriam censurados assim ñ dá
rsrsrsr
que beleeezza!!!!!!
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