segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

ESTES GRUPOS TEATRAIS NASCERAM NA OFICINA CULTURAL LUIZ GONZAGA






Passei boa parte do final de 2009 e inicio de 2010 organizando meu acervo pessoal, e me deparei com antigos programas de grupos teatrais de São Miguel. Grupos e pessoas que começaram ali, ao meu lado, convivendo, às vezes até sendo amigos, outras, refletindo a alma humana em vários estágios de sobrevivência. Achei por bem registrar aqui em nosso blog seus nomes e algumas passagens destas pessoas e destes grupos na região e o fim que levaram... ao menos até onde sei.

GRUPO DE TEATRO AMADOR LUIZ GONZAGA - 1994
Ira de souza. Conheci Ira de Souza no Teatro Itália, no inicio de nossas carreiras. Havíamos passado no teste para trabalhar no espetáculo A MATILHA DOS FEDELHOS de Urubatan Amaral. Ficamos por ali por dois ou três meses até que a produção fracassou. Passei alguns anos sem ver a Ira, mas a reencontrei no início de 94 na Luiz Gonzaga, ainda na Parioto, 402. O Alucinógeno Dramático Teatro Experimental dava seus primeiros passos, e Ira montou seu grupo, dando o nome de G T A LUIZ GONZAGA. Achei o nome um tanto comum, mas, como sempre, fiquei na minha. O grupo era formado por dez integrantes exóticos. Se vocês o vissem na rua, não diriam que eram "gente de teatro". Simples, bem humorados e fiéis a Ira de Souza. Paus para toda a obra. Com eles, Ira remontou a peça de Urubatan Amaral e apresentou no Festival de Teatro Amador do Itaim Paulista. Nós apresentamos A VALSA DOS MORTOS, nosso primeiro espetáculo. Nós ganhamos o prêmio de atriz coadjuvante (Lilian Menezes ganhou o prêmio e saiu do grupo para a companhia de um dos jurados, chamado José Ferro. Desta companhia, ela sumiu do teatro até 97, quando participou do AD no espetáculo UM VAMPIRO NO KAOS, baseado na obra de Jorge Mautner. Depois, sumiu...).
Não lembro do LUIZ GONZAGA ter ganhado algum prêmio. Aliás, só me lembro que ROBERTO C. SANTOS veio para o AD no ano seguinte e que o grupo de Ira tornou-se, menor, mas continuou atuante até 98, 99. Se não me engano, o grupo passou a chamar ARTE VIVA mais pra frente, e apresentava peças nas escolas estaduais da região. Depois, Ira sumiu. diz a lenda que comprou um apartamento e continua trabalhando com teatro em algum lugar.
Ira faz falta em São Miguel. Sua simpatia e seu talento nato enriquecia muito o teatro da região, com peças simples, que beirava o teatro popular e chegava a qualquer coração.

CIA CORPO EM VIDA DE TEATRO - 2000
Sidney Bonfim. Conheci Sidney em meados de 95, quando ele foi fazer um teste para entrar no espetáculo BERENICE. Não deu certo. Sidney já possuia seu gênio e sua arrogância possivelmene herdada de umas três encarnações seguidas. Inteligente, ambicioso e crítico, manteve os amigos sempre que possível um passo atrás. Sempre a frente, o menino. Lembro da nossa breve convivência no AD uma conversa mais ou menos assim:
"Claudemir. O discipulo pode ultrapassar o mestre se ele matá-lo e viver mais tempo."
"Depende, Sidney: este discipulo vive dez anos a mil ou mil anos a dez?"
Ficou refletindo. Possivelmente não conhecia Lobão. Enfim...
Em 1999, apareceu na Luiz Gonzaga, já na Amadeu Gamberini. Não lembro como o grupo se formou. Possivelmente de uma oficina ministrada por ele. O fato é que este grupo tinha nomes que até hoje circulam por aí, como SUZANA DINIZ, ALEXANDRE SANTO, CRISTIANO VIEIRA, EGBERTO ALVES e TATIANA MATTUS. Montaram um espetáculo chamado MAIS VALE UM REINADO DO QUE UM CAJADO, de Tutti Felippe. Uma comédia que trabalhava uma linguagem de desenho animado. Tudo muito profissional. Cheguei a fazer iluminação para eles, até que Sidney escreveu o grupo em um festival e não avisou o AD do mesmo. Não iluminei mais o treco. O grupo durou, se não me engano, uma peça e um romance com final mal resolvido. O grupo se desfez. Cada um tomou seu rumo. Mas dali saiu o XISTO, a REALÚDICA e, de certa forma, a cia ENCANTO ENQUANTO CONTO, que trabalhou exclusivamente com contação de histórias. E Sidney também saiu, de São Miguel para Americana, onde está erradicado.
Sidney Bonfim é uma personalidade impar e incomoda, e por isto mesmo faz falta por aqui, numa época onde a maioria dos artistas está de rabo preso com um partido, uma ideologia ou a sobrevivencia egoista de seu trabalho. Sidney Bonfim era sincero, e sinceridade num artista é algo tão raro quanto uma virgem loira de quatorze anos. Se acharem, me avisem que eu trago um unicórnio!

CIA XISTO DE ARTES TEATRAIS 2001
Sidney ficou muito puto ou muito hilário com este grupo. Indiferente não ficou. a XISTO era comandada por Tim Urbinatti, um macaco velho de teatro que trabalhava no projeto Ademar Guerra. Suzana Diniz chegou a cogitar a possibilidade do AD participar do projeto. Eu fui sincero.
"Quem dirige esta porra sou eu!"
Ela riu e me chamou de doido. Aliás, ela faz isto até hoje.
XISTO era uma mistura de ex CORPO E VIDA (Suzana Diniz, Tatiana Mattus) com ex AD (Daniela de Prá e Kerson Formis) e algumas figurinhas novas.
Tin, com seu teatro tradicional, deve ter metido Stanislavsky guela abaixo da molecada e, utilizando trechos de textos de Luiz Fernando Verissimo, Guarnieri, Jorge Andrade, Consuelo de Castro, Chico Buarque e Paulo Pontes, montou uma coletanea de cenas intitulada, obviamente, CASAMENTOS EM CENA. Tava eu lá na iluminação de novo. Apaixonado pela amizade que nutria por Suzana - amizade que cresce até hoje! - não consegui dizer não.
O espetáculo rodou por onde tinha que rodar e ficou na memória de quem assistiu e nos registros. O grupo? Até hoje não sei bem o que aconteceu, só sei que sumiu de São Miguel pra Patriarca (onde realizou alguns saraus).
Hoje, sei que Kerson trabalha como clown por aí e estuda sapateado. Vi Tatiana Mattus e Daniela de Prá no último sarau realizado por Suzana Diniz. Não lembro do nome do grupo ter sido citado.

POMBAS URBANAS - 1989
Biblioteca de São Miguel. 1995. Ou 1996. Tô lá paquerando garotas desavisadas entre as estantes e encontro Adriano Mauriz, perdido.
"Que foi, bicho?"
"To procurando Stanislavsky, cara."
"Aqui. Teatro."
"Ah, bacana."
Mostro os livros que tem. Se encanta.
"E cadê as peças?"
"Ali, na outra estante. Literatura."
Adriano fica surpreso. Não tinha muita intimidade com estantes de biblioteca. Eu, por outro lado, já estava acostumado com a classificação decimal de Dewey. Acho que ali começamos a prestar mais atenção no trabalho um do outro.
Pombas Urbanas é um grupo que dispensa apresentações, não é mesmo? Nasceu na Luiz Gonzaga numa oficina do saudoso Lino Rojas, saiu dali para festivais e mostras dentro e fora do Estado e do País, passou algum tempo na Barra Funda, sobreviveu ao brutal assassinato de Rojas e hoje estão pousadas na Cidade Tiradentes, semeando a cultura em seus vôos rasantes naquela região. Dos grupos do bairro, é um dos poucos que continuam na ativa, fazendo diferença e, com certeza, o que se estabilizou definitivamente, tendo seus componentes trabalhando exclusivamente com arte.
Em dezembro, na Oficina, reencontrei Adriano. Aliás, ele me reencontrou. conversamos um pouco sobre a diferença dos grupos de nossa época e dos grupos de agora. O coletivo está perdendo espaço cada vez mais para o individual. Bom ou ruim? Não cabe a discutir isto aqui. As Pombas Urbanas entraram em sua Van e bateram asas. Eu sumi na minha bicicleta de 18 marchas e fui beber cachaça com meus amigos e meu amor no bar do didi. Acho que ambos estamos satisfeitos, apesar de querer sempre mais.

ALUCINÓGENO DRAMÁTICO - 1994
Iniciamos "DRÁCULA PROCESSO ARTISTICO" amanhã. Temos este hábito de clássicos. Teremos novos componentes. "MEDÉIA" prosseguirá também. É possivel que seja apresentada no centro de São Paulo - nosso colaborador, o cineasta ALEXANDRE D'LOU insiste em abrir novos horizontes e possibilidades. Uma pessoa confiável e talentosa. Logo, vamos nessa, meu nego! Mas não pretendemos sair tanto assim de São Miguel tão cedo - e nem mais tarde. Manja aquela frase "O Artista tem que ir onde o povo está"?
Pois então, estamos aqui: quem quiser que venha.
E vamos nós para 16 anos de existência, agora dia 15 de Janeiro.

Conclusão:
A CELEBRAÇÃO DO PASSAR DOS ANOS É PARA POUCOS!

12 comentários:

Blog do Akira disse...

Fiquei exilado dentro de mim durante muito tempo, tipo de 1988 a 2004. É tempo demais. Perdi e ganhei coisas demais.

Claudemir "Dark'ney" Santos disse...

Akira, tu podia falar um pouco do que rolou de teatro na época do MPA, do que você fez, do que você viu, coisas assim, pra complementar meu texto historicamente! O que achas?

Nando Z disse...

Legal!!!
um dia eu monto um grupo igual o do claudemir!!rs, mais é massa sabe que sun migue tem um belo historico nos grupos de arte cenicas

Blog do Akira disse...

Preparem-se.

Claudemir "Dark'ney" Santos disse...

Que beleza!!!!!!!!!!

IvanNeris disse...

Faltou o "Cria de Gonzaga", uma dos grupos de teatro nascidos na oficina que você mais admirou no tempo que o conheço Claudemir,como pode esquece-lo ?

Claudemir "Dark'ney" Santos disse...

Não esqueci do Cria de Gonzaga; apenas falei sobre os grupos dos quais achei os programas - de certa forma - acidentalmente. Não tenho nenhum material do grupo em meu poder: folder, cartaz, coisas assim. E no mais, comentei dos grupos de um tempo diferente. Na minha visão, Cria de Gonzaga é de outra época, outro momento, que não colaborou muito com o nosso desenvolvimento artistico porque chegaram anos depois. Mas, de fato, devo falar deles em breve para traçar este paralelo, e assim o farei. Em breve, ok?

Claudemir "Dark'ney" Santos disse...

Quando falo de desenvolvimento artistico, me refiro às conversas entre os integrantes dos grupos, as participações de cursos, palestras, movimentos culturais, assistir espetáculos reciprocamente; toda aquela agitação cultural e natural que tinhámos - e o entrosamento que, se não amisto às vezes, ao menos aberto ao dialogo e sincero, sem medo de machucar. Quem teve algum contato assim com o Cria que me diga, pois eu mesmo não tive.

Blog do Akira disse...

Levei o "Cria de Gonzaga" nos Metroclubes Jabaquara e Itaquera dois anos seguidos. Devo ter fotos das apresentações em algum arquivo lá no Metrô, devo ter também cartazes que fiz para divulgá-los internamente, prometo que vou procurar e depois encaminho para o Claudemir. Aliás, encaminho ou não?

Claudemir "Dark'ney" Santos disse...

Pode encaminhar sim, ou pode escrver sobre eles, nego.

Grupo DaCuia disse...

Claudemir.. saudações.
Muito bom visitar seu blog e ter a oportunidade de fazer uma leitura, resgatando tempos idos, mas de grande valia.Muito bom também é ser lembrado por vc e comtendado, na sua ótica. Também é importante fazer parte da históia teatral de S. Miguel. Quer saber por onde ando?????? Vou por aí... Continuo com o teatro... está na veia. Me enveredei na literatura do teatro de bonecos e descobri um mundo mágico de expressão cênica. Isso me levou até Recife-PE e por lá fiquei 2 anos. Depois caminhei por outros estados e voltei para SP. Meus últimos dias em SP foi com o Grupo Sobrevento. E agora estou em Americana-SP. Aqui é o meu lar... e o meu quintal é o mundo. Com o Grupo DaCuia Teatro de Animação tenho viajado o Brasil apresentando em festivais e mostras.. e em breve Espanha,Portugal, França e República Tcheca.Continuo, meu nego, nesse caminhar... sempre. Quero voltar a S. Miguel e tomar uma cachaça com vc ..e prosear... e quem sabe fazer uma apresentação em qualquer lugar que vc sugerir.. abraços sinceros desse seu masi simples amigo.
evoé

Cria de Gonzaga disse...

Um salve geral à vocês: Ivan, Akira e Claudemir!!

Acabo de fazer o blog do Cria e em busca de conhecidos deparei-me com o seu blog e o tópico, que por sinal achei interessantíssimo.

Então, o Cria retoma seu caminho depois de um intervalo que fora necessário... É um grande orgulho ter surgido nesta Oficina que muito corrobora com o fazer teatral da nossa região.

A gente continua sim na estrada... em busca de novos atalhos e entenda-se por "atalhos" caminhos, estéticas, linguagens, o MOTIVO para fazer um novo trabalho e não a busca do repertório pelo repertório, do fazer pelo fazer... e descobrir esse processo foi complicado, demorado...

O Cria surgiu de uma forma meteórica e mais meteórica ainda com a premiação de um edital. O que começou com um grupo de amigos, tornou-se a descoberta da responsabilidade do fazer teatral e embora todos nós já tivéssemos experiências em outros grupos, o caminho que começamos a trilhar, pontuado pela idéia de uma só pessoa e da qual agradecemos e nos inspiramos, Flávia Bertinelli, fora demasiadamente agigantado nas perspectivas e nas expectativas... Foi inevitável a frustração, por parte de alguns dos integrantes por uma série de fatores. E surgir do nada e atingir um público que não esperávamos foi algo inebriante, assustador, paralisante... E depois de pouco mais de dois anos de Jogo de Cenas, veio a interrogação. O famoso "E agora, José?" parafraseando o grande poeta itabirano, Drummond.

Caminhos novos surgiram para os integrantes aliado a não necessidade de dizer algo em coletivo naquele momento (embora existam muitas coisas a serem ditas, apontadas, gritadas) fez com que cada um fosse para o seu caminho, por alguns meses... O Cria surgiu em um momento diferente, concordo plenamente, de uma cabeça diferente mas não menos importante ou melhor dos que os demais que da nossa oficina surgiram... Apenas diferente, graças aos Deuses, pois nada mais triste ser o "mais do mesmo"!!!

Hoje, mais maduros, a gente naturalmente resolveu retomar de onde paramos e como em todo grupo, alguns não puderam continuar na batalha conosco (os sempre amigos:Edu Gonzaga e Bigão), novas pessoas agregaram-se. Hoje estamos em novo processo... o nome do nosso projeto é "HOMENS NÃO CHORAM - um espetáculo poético experimental" (logo colocaremos no blog parte dos registros do nosso processo)...

Hoje já é diferente o ritmo, os qestionamentos... nossos olhares modificaram-se ou, amadureceram. Talvez, por "N" motivos não tivemos a oportunidade de trocar processos, idéias... ainda talvez porque não era o momento... Mas, ainda há tempo, não é mesmo?

Akira - Obrigadaço pela sua força!!

Claudemir, tamos ai!! Tem clipping no nosso blog, dá uma passada por lá!!!

Grande abraço,

Guilherme e Cria de Gonzaga