sábado, 14 de novembro de 2009

VIRA A LATA DO LIXO: DANÇA, POÉTICA E TRANSFORMAÇÃO DE LÓ GUIMARÃES



Onírico e realista, subjetivo e direto, moderno e transcendental. O espetáculo solo de Ló Guimarães (fundadora integrante do grupo Excaravelhas) apresentado em plena sexta feira 13 no CEU Jambeiro, Guaianases, Extrema Zona Leste de São Paulo, nada teve de irreal. Ao contrário, a leitura social, artística e ambiental do espetáculo revelou ao público, através de sua estética incomum, repleta de cores, imagens e movimentos, uma nova maneira de ver o universo já tão conhecido dos moradores de rua.

“Vira lata do lixo” concebido pela dançarina e arte educadora, digirido por Marília Ennes, com cenários de Juliana Pfeifer, narra através de dança contemporânea e aérea, a saga de uma moradora de rua que, no auge da angustia de sua vida aparentemente miserável, mergulha em sonhos e fantasias em busca de uma visão real de si mesma. Tendo o ser humano como forma de reflexão do ambiente, Ló Guimarães é exímia em seus movimentos, nos fazendo viajar no tema e nos surpreendendo com a trajetória de sua heroína.

A criação do espetáculo partiu de sua visão pessoal do mundo, onde ela crê que o cuidado consigo e com o outro é refletido em nossas ações de preservação do planeta. Com sorriso magnético e alma aberta, ela corta o ar à sua volta com frases certeiras durante um bate papo com o público ao final do espetáculo. A leitura de cada alma do trabalho; a necessidade de se amar para poder amar o próximo; a própria imperfeição reconhecida juntamente com a busca de melhorias pessoais; a criação a partir da improvisação e o mundo visto através das lógicas dos desenhos animados da infância. Ló Guimarães é pura poesia e transformação. É impossível assistir seu espetáculo, conversar com ela cinco minutos e continuar sendo a mesma pessoa.

Infelizmente, esta foi sua terceira e última apresentação em São Paulo. Última até a página dois, meus amigos: ano que vem ela pretende trabalhar mais com a “Vira lata”, pois ela sabe o potencial que tem sua obra. E espero que ela saia de Campinas, onde mora, para trazer a nós, paulistanos, sua arte. Ver apenas uma vez não basta. “Vira a lata do lixo” tem gosto de quero mais.
Vamos aguardar a próxima oportunidade!

VIRA LATA SEGUNDO CLAUDEMIR SANTOS

Ló Guimarães ministrou um pequeno workshop para alguns alunos no CEU. A simpatia e a boa música invadiram a sala. Apresentamo-nos um para o outro durante o pequeno intervalo. Moça bonita de mente inteligente. Apaixonante de fato. Me fala com tanto entusiasmo de seu espetáculo que é impossível não querer assisti-lo. E eu fui. Graças ao bom Deus! E digo de mão erguidas para o céu. As idéias que movem a criação de Ló Guimarães fazem parte, de certa maneira, de sua indignação perante as injustiças sociais de nosso país. Ela precisa, sente que sua linguagem artística pode fazer a diferença, de alguma forma e, pensando nisto, Ló cria a dança, o movimento, o vôo de sua Arte.
Admirável.
Aos olhos do público, como ela bem disse, um número infinito de leituras são possíveis. Há quem tenha visto algo de Chaplin, de Kurosawa, coisas assim. Eu mesmo senti algo de Buster Keaton, David Lynch, Andersen e Eric Serra. Ela fica admirada com estas palavras pois, além das referências artísticas que foram se acumulando em sua arte e mesclando-se à sua visão pessoal, não houve em nenhum momento uma referência direta deste ou daquele artista. Se há algo no espetáculo que remete à algum momento artístico ou estilo, ele surge da mesma forma que duas árvores do mesmo fruto crescem ao mesmo tempo em hemisférios diferentes. Aos olhos de Ló Guimarães, o universo está interligado, e cabe a nós tornar tudo melhor ou pior. Aos meus olhos, ela está fazendo muito bem sua parte; ao tratar sua Arte com amor e dividi-la com o próximo.

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