Completando minha semana de exclusão física do mundo, passei a tarde do último domingo de 2008 assistindo “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, de Jean-Pierre Jeunet.
Jean-Pierre é um velho conhecido meu. “Ladrão de Sonhos” é um dos meus filmes preferidos, assim como o vertiginoso “Delicatessen” e a tentativa hollywoodiana chamada “Alien Ressurreição”. Jean Pierre me apresentou em primeira mão o ator Ron Pearlman (O corcunda retardado de “O nome da Rosa” e nosso amado “Hellboy”) e tem como visual uma estética que o diferencia de qualquer outro diretor: as cores que saltam na tela como se fossem pinturas surreais ou, ainda mais, um Bosch, com toda sua loucura renascentista. Seus roteiros são imprevisíveis e seu efeito dominó de algumas ações são de tirar o fôlego.
Agora, o que mais me chamou a atenção em “Amélie Poulain” foi a maestria utilizada para mostrar ao espectador certos valores que movem o mundo particular de cada um. Os personagens vivem suas vidas presas a significados representados por estados mentais que, por sua vez, se apóiam no mundo real através de objetos e atitudes tomadas perante este objeto (e, neste caso, o objeto muitas vezes é outra pessoa).
O que a personagem faz? Utilizando esses mesmos objetos, trocando-os de lugar na existência do outro, ela causa uma mudança de significado em toda sua vida, mostrando como é simples transformar a vida em algo melhor e com um significado totalmente diferente. Ela faz isso através de fotos, duendes, palavras e, ao mesmo tempo, enfrenta uma grande dificuldade de transformar a própria vida – mas isto é sempre mais difícil mesmo. A vida dos outros sempre parecem tão mais simples!
O espectador mais atento vai perceber que às vezes a mudança de um objeto/pessoa/palavra/situação pode mudar todo o significado de sua própria existência. Aquilo que o personagem de Robin Williams diz na “Sociedade dos Poetas Mortos”: ver as coisas por outro ângulo. Não estamos tão longe assim da grandeza da alma, pelo jeito. Mas ser mesquinho é mais fácil, não é verdade? No filme, o desejo de mudança vence o estado mesquinho da alma de quase todos os personagens e nos dão um novo modelo para um mundo real. Ah, se pudéssemos aprender mais com estes belos filmes...
“Amélie Poulain” me foi indicado por uma aluna fantástica: Giu Castro; uma das mentes mais brilhantes que já conheci. Temos uma cumplicidade artística: eu a informo sobre os clássicos e ela me informa sobre a atualidade (engraçado: nossa relação é parecida, de certa forma, com a dos personagens Monsieur Dufayel, o homem de vidro {linda metáfora humana!} e a própria Amélie).
Ela me emprestou o filme no meio deste ano, mas eu precisava assistir com calma e no momento certo. Faz algumas horas que isto aconteceu. Minha alma está mais leve: vou chegar a 2009 de horizontes abertos, certo de que a mudança de certos significados no meio do caminho serão necessárias para que eu entenda melhor o mundo e a mim mesmo, conseqüentemente.
Parabéns, Giu. Você desvendou minha alma pela segunda vez no mesmo mês!
FILMES DE JEAN-PIERRE JEUNET:
- 1991 DELICATESSEN
- 1995 LADRÃO DE SONHOS (Le cité dus enfants perdus)
- 1997 ALIEN, A RESSURREIÇÃO (Alien: resurrection)
- 2001 O FABULOSO DESTINO DE AMELIE POULAIN (Le fabuleux destin d'Amélie Poulain)
- 2004 ETERNO AMOR (Un long dimanche de Fiançailles)
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3 comentários:
ALELUIA, ELE VIU O FILME! Onomatopéias de surpresa, por favor, obrigada, beijos. Que bom que gostou do filme, eu me apaixonei por ele também quando assisti, mas eu sou suspeita porque sou meio sentimental um pouco demasiadamente em demasia. Sabe, eu achei que você iria chegar pra mim, quando assistisse, e falar que era filme de boiola, hehehehehehe. MAS NÃO É A COISA MAIS LINDA? A música e a fotografia, pricipalmente essas duas coisas, Audrey Tautou (nem sei se é assim que escreve, rere), a história e toda aquela imprevisibilidade (?) me renovam sempre que eu assisto e abriram minha mente.
Ok, um Claudemir no msn tá me enchendo o saco enquanto eu comento aqui, então melhor terminar. Tchau :D
Desculpe, gênio. Nã sabia que vc estava trabalhando. O convite pra escrever aqui ainda tá aberto. Vc escreve bem e suas idéias são um tanto inusitadas e coerentes. Te quero aqui como autora. Sou seu fã, vc sabe, né? Bjs.
Finalmente tu viu o filme hehe..é um filme do cacete mesmo. Tem outro filme chamado Trem da Vida de Radu Mihaileanu que eu acho que tem bastante a ver com Amélie. A trilha sonora de Amelie Poulain é de Yann Tiersen, e vale apena ouvi-la separada do filme pra se ter a idéia mesmo de como é boa.
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