quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Carolina

Carolina cercava os gatos preocupada com as bombas, esperava pelo sol do meio dia na idícula nos fundos do terreno, por sorte ou por acaso conseguiu ser mais veloz que os bombardeiros, das janelas fechadas ela vislumbrava as siluetas dos aviões que riscavam o céu, ao fim da parafernalha de guerra, Carolina discretamente deixou o escoderijo e rápidamente saíu portão a fora, com tristeza percebeu que não haviam mais casas em sua, que não havia mais bairro em sua cidade, que não havia mais cidade em seu país, que não havia mais país em seu mundo e que seu mundo despencara no infinito esquecimento...
Nada mais lhe restara além de voltar para sua casa, a única casa que ainda restara neste universo de coisas desfeitas, ao cruzar o portãozinho baixo pintado de verde seu sentimento a impulcionou diretamente a idícula, afim de saber como estavam seus gatos, ao adentrar o cômodo o risonho e gordo gato cinza logo lhe questionou: Porque esses olhos lacrimosos meu docê?
Ah meu querido bichano ingênuo, você ri pois nada sabe da vida e eu choro, por tudo o que existia e que já não existe mais...
Pobre criança! Você chora atoa pois tudo o que existia só existiu por que você acreditou que estava lá! – e o gato desata a rir despachadamente de Carolina que olha para aquele riso e para seus gatos que riem junto com o gato cinza, olha como sempre fizera com seu olhar de quem nada entendeu sobre vida.

Ivan Neris 25 de Dezembro de 2008

8 comentários:

Anônimo disse...

IvaNeris: Quebraste a porra do facão!!!

Diferente do que geralmente escreve, este seu conto poesia ficou do caralho viu?

Estou falando sério e não estou bebado!

Agora, só de brincadeira, o texto poderia se chamar AutoRetrato.

Tiago Bode disse...

Puta que pariu!!! Prosa-poética da melhor linhage, a la Carlos mendes Campos, com nuances de Ignácio de Loyola Brandão, Bradbury, Orwell, Marquez, e arrematada, brilhantemente, pela sagacidade e astúcia de Ivan Néris... não fosse esse último elemento, eu queimava!
Parbéns Ivan, sempre!

Tiago Bode disse...

Perdão pela errata: o nome do cabra ér Paulo Mendes Campos, é que estou ouvindo Roberto Carlos e fiquei com a porra do nome na cabeça... só pra lembrar, também lembra (o conto de Ivan) um pouquinho, o Sabino.

Claudemir "Dark'ney" Santos disse...

Ivan Neris, és o infinito!
Mas sem cu e sem pinto
Ficas mais bonito!

Bom.
Bom demais, meu véio!

Anônimo disse...

Eu sabia que o Claudema era POETA!!! =)

Claudemir "Dark'ney" Santos disse...

Eu canto porque o enquanto não existe
Tarcísio não sabe mas insiste
Tá pensando que sou poeta!
Sou não: só gosto de tirar um sarro.
Então: bebemos!

Srta Petta disse...

Adorei!Tenho certeza que quem ler irá indentifica-lo,com algum momento de sua vida:se não se lembrar agora com certeza em algum momento de sua vida lembrará do poema.

Parabéns!

Nando Z disse...

Bunitu mermo Ivan!!! eu ñ tenho de palavra pra falar mais bunitu é bom também!!