Estou enfiado até o pescoço no mundo das artes desde meus 14 anos, e nestes dezenove anos aprendi uma coisa muito interessante: você não precisa ser inteligente. Bobagem! O negócio é soar intelectual. Lembro-me muito bem das discussões dos aspirantes a artista sobre quem era o melhor diretor teatral do Brasil: Antunes Filho ou Gerald Thomas. Fui pesquisar no ato e achei a discussão absurda. Filho preocupa-se com a construção do personagem e a preparação do ator, enquanto Thomas está mais é querendo acentuar a estética de seus espetáculos. Ignorei os críticos de plantão e busquei entender os caminhos de ambos. E ainda estávamos em 1992. Lá vinha vinho por aí, evidentemente.
Encontrei muita gente que se achava inteligente no caminho, e o máximo da inteligência sempre era criticar o trabalho de alguém – que, evidentemente, conhecia-se superficialmente, quando se conhecia, é claro. Havia um coreano em São Miguel que se achava o rei da cocada preta, estudava economia ou coisa parecida na USP e era metido a artista. Uma vez, na oficina ainda na antiga Parioto 402, ele viu um livro do Stanislavsky sobre a mesa, pegou-o e começou a dissertar sobre o mesmo para minha pessoa e eu nem me lembro por que raios ele fez isto. Roberto C Santhos (ator do AD das antigas, até 1996) aproximou-se e ficou ouvindo a conversa. Quando o coreano terminou, olhou para ele e perguntou: “O livro é seu?”, e o Roberto disse: “Não, é dele!”, apontando para mim. Quem me conhece, sabe que o sorriso sarcástico foi inevitável.
Enfim, a estrada continua. A maioria das pessoas que começaram antes ou junto comigo já abandonaram o ofício e se entregaram ao emprego, família, drogas, morte ou seja lá que for. A maioria leva uma vida comum, lembra-se com saudades dos tempos artísticos e não deixam os filhos chegarem muito perto dessa coisa depravada chamada Arte. Alguns se encostaram em partidos políticos e lutam pela causa (Ai, Jesus! Que medo de virar Ateu!)
Eu? Ah, gosto do que faço: continuo por aqui. Minha pretensão caiu pelo meu bolso furado não sei quando e eu nem sei aonde (por mim, morro em São Miguel no balcão do Didi ou em casa, após ter vivido anos e anos com aquela bela garota ao meu lado; uns trinta anos mais nova que eu!).
Por isto, estou com meu Marlboro na boca, encostado no portão, conversando com poucos amigos que ainda riem bebendo e observando pessoas que vão mudar o mundo assim que puderem com seus pensamentos e sacações. Soam intelectuais, parecem inteligentes, sabem dizer nomes complicados e explicar teorias e teses que muito se dedicaram para decorar, mesmo que não entendam nada sobre o que estão falando. Mas enganam bem. São bons atores, apesar de que alguns são músicos, na verdade.
Mas, se você quiser entrar pro clube deles, é muito fácil: vista roupas esquisitas que estejam na moda, mesmo não sendo mais adolescente; troque de opção sexual e tenha o máximo de parceiros e parceiras que quiser – e deixe todos saberem de tudo!; seja amigo de pessoas que pensam as mesmas merdas que você; odeie aquela turminha de artistas que se assemelham a mendigos, gordos, feios, carecas demais, cabeludos demais, drogados e heterossexuais: um artista que parece uma pessoa comum é um artista inexistente!; ah, é verdade: diga que o mundo não te entende e encha o cu de drogas (não vale se divertir!); tenha na boca frases espetaculares de autores espetaculares e use-a sempre para provar para alguém que ele não sabe nada sobre a vida; não tenha preconceitos musicais: escute qualquer lixo e diga que é maravilhoso; leia ao menos o resumo dos livros clássicos; siga a Winehouse como exemplo de existência e filosofia de vida; vote no PT e diga que a mídia persegue a esquerda brasileira e, possivelmente o mais importante: quando o assunto for literatura, fale mal do Paulo Coelho! Seguindo estes passos, você sempre será lembrado com diferente, intelectual e inteligente. Eu só não sei pra quê!
ALIÁS, DO PAULO COELHO EU INDICO:
- O ALQUIMISTA
- AS VALKIRIAS
- VERONIKA DECIDE MORRER
- O DEMONIO E A SENHORITA PRIM
São os melhores dele, mas lembre-se que é entretenimento. Quem assiste um “Duro de Matar” esperando um “Não matarás” só pode ser um idiota. Por isso nego, não espere de um “Paulo Coelho” um “Pablo Neruda” pois, neste caso, quem terá baixo nível cultural é você!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
Coincindentemente, esses são os livros do PC que eu indicaria a alguém com a mesma idéia de que o senhor falou (entretenimento), entretanto, e espero que isso não casuístico demais, afirmo que são leituras iniciais, aliás como toda a obra dele - li Brida, Monte cinco, as Valkirias, Diário de um mago e mais uma meia-dúzia que deixei cair no esquecimento (perdão pelo clichê) ou por não considerar relevante, ou por não conseguir distinguir o quê era o quê, nos umbrais de minha memória - entretanto, volto a dizer, é uma leitura inicail e hoje, particularmente, não é o tipo de leitura com a qual me habituaria. Não por que eu tenha lido coisas muito superiores, simplkesmente porquê, acho eu, passei da época. Ainda assim, recomendo os mesmos livros de PC por uma razão que parece óbvia demais até para a crítica literária: o cara é reconhecido no mundo inteiro e ainda que não tenha sido um dos Criadores de Linguagem - os caras que escreveram obras tão relevantes que mudaram a forma, quebraram os limites estéticos a ponto de redefini-los e propor tendências que, instintivamente, virariam as famosa "escolas literárias" - merece algum respeito.
Ah, e pelo amor de meu deus: também sou contra rótulos, ainda que estes sejam muito evidentes!
Beijos
Meu amigo, que Guimarães Rosa, José Saramago e Machado de Assis e outros acadêmicos - até mesmo o Coelhão que não escreve bem mas ocupa uma cátedra - me perdoem, mas a única linguagem que me interessa são as línguas literais das menininhas e suas formas, limites estéticos e tudo isso aí mais! Do Português eu quero mais é o pão. Eu disse PÃO!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
BICHU AAMANHA EU CONTINUO O COMENTARIO POIS BEBI MAIS PÃO QUE VINHO
Senhores...
Eu como semi-analfabeto letrado acho erronea a pratica de alguns autores ou ate artistas que falam e escrevem como um grande dicionario aurelio, pois quem quer ser lido ou ser expressivo deve fazer de uma forma mais abrangente, ha situações e situações para as pelas e diferentes palavras.
E quero parabenizar Claudemir santos por ser praticamente o Nostradamus de Sum migué!! este texto ao meu ver fala muito do acontecido na sexta 20/12 mais ate do que sobre o "Coelhão" bem abraços tudo di bom!!!
ops e entendam belas em vez de pelas, esse sou eu bebado e importuguavel!!!
Postar um comentário